Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Parte 12)
• Por Alfa Romeo Clube do BrasilParte 12 do incrível artigo elaborado por Alberto Maurício Caló sobre o Circuito da Gávea.
CIRCUITO DA GÁVEA – 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro
(PARTE 12) Por Alberto Maurício Caló
A TEMPORADA DE 1937 ANTES E DEPOIS DA PROVA DA GÁVEA
Algo normalmente passa desapercebido na narrativa dessa corrida é que prova da Gávea ocorreu em plena temporada européia.
No futuro as provas sul americanas seriam realizadas normalmente fora da temporada européia. Assim durante as décadas seguintes as temporadas sul-americanas seriam sempre realizadas entre dezembro e março no máximo.
Ao longo do tempo nesses meses de pleno frio na Europa, as equipes e pilotos do velho continente aproveitariam para comparecer tanto às provas sul-americanas como às provas sul africanas, australianas e neo-zelandesas.
Durante as décadas seguintes essas temporadas no hemisfério sul serviam para ocupar o tempo e os bolsos das equipes e pilotos europeus e eventualmente serviam como uma ocasião para demonstração e venda do “carro do ano anterior”.
Mas a prova do Brasil em 1937 foi em plena temporada Europeia e em várias delas a Scuderia Ferrari e a Auto Union tiveram que se desdobrar literalmente para comparecer a todos os eventos.
Quem veio ao Brasil perdeu as Eifelrennen na Alemanha (logo antes) e a Vanderbilt Cup nos EUA (logo depois), mas todo mundo voltou a tempo de se reencontrar no GP de Mônaco.
Vejamos as provas logo antes e logo depois no ano de 1937
Em janeiro de 1937, mais precisamente em 1/1 foi realizado o GP da Africa do Sul em East London e em 16/1/37 o Grosvernor GP em Cape Town, portanto completamente fora da temporada européia. Alí vimos a Auto Union apenas com Rosemeyer e Von Delius disputar esses GPs realizados no sistema de handicap com uma derrota no primeiro e uma vitória no segundo como já comentado anteriormente.
Tirando as provas na Escandinávia, as primeiras provas européias importantes foram o GP de Pau na França, mas dessa vez feito na forma de corrida de carros esporte para evitar a presença dos monopostos alemães e italianos e favorecer os carros franceses como Bugatti, Talbot, Delage, Delahaye, tendo como consequência a vitória do astro francês Jean Pierre Wimille com Bugatti T59 de fábrica.
No final de março de 1937 começou a temporada inglesa e no começo de abril a Mercedes testou seu carros em Monza.
Em 4 de abril de 1937 Pintacuda venceu as Mille Miglia com Alfa 8C 2.900-A acompanhado de Mambelli precedendo a dupla Farina/Meazza com o mesmo modelo.
Em seguida, 18/4/37, a Scuderia Ferrari se fez presente em Turim com a equipe completa para o GP Principe del Piemonte no Parco Valentino (também referido como GP del Valentino). Com o acidente de Nuvolari nos treinos, o mesmo foi substituído por Pintacuda e no final venceu Brivio trazendo,consigo Farina, Trossi e Pintacuda, todos com Alfas 12C 36 da Scuderia Ferrari.
Isso indica que eventualmente Brivio tinha um status levemente maior que Pintacuda na equipe naquele exato momento (Pintacuda seria o “reserva” da equipe e só participaria da prova por força do acidente de Nuvolari).
Em 25/4/37 a Scuderia Ferrari já estava na II Coppa Principessa del Piemonte no Circuito de Posillipo em Nápoles, com Farina e Biondetti (Alfa 12C 36), Siena Alfa (8C 35) e Villoresi (Alfa 8C 2.900-A).
Pintacuda e Brivio não estavam presentes, mas é importante notar que nessa prova estava inscrito pela Scuderia Ferrari o argentino Carlos Arzani com a Alfa 8C 35 que acabara de comprar da Scuderia e traria para o Brasil a tempo de participar da prova da Gávea.
Arzani assim poderia se “adaptar” a seu novo Alfa ainda sob o “manto protetor” da assistência direta da Scuderia da Scuderia Ferrari.
Nessa prova com campo fraco de competidores a Scuderia fez uma “demonstração” com Farina precedendo Biondetti, Villoresi, Arzani e Siena nesta ordem.
A se notar também que nessa prova correu outro personagem da Gávea de 1937, o italiano Carlo Gazzabini com sua 8 C Monza que ficaria em um honroso 6º lugar com seu Alfa mais antigo.
Em 28 e 29/4/37 Mercedes e Auto Union fizeram testes bo Circuito de Avus (Berlim), mas Stuck não estava lá.
Finalmente em 9/5/37, houve primeiro grande evento internacional com todas as equipes no importante GP de Tripoli (Libia) no rápido circuito de Mellaha, o que seria o que os ingleses chamam de “season opener”. Esse seria o primeiro encontro das flechas prateadas com as Alfas da Scuderia Ferrari na temporada. Alí ainda iriamos ver Stuck acompanhando a equipe completa da Auto Union (com Rosemeyer, Hasse, Fagioli e Von Delius). Brivio acompanhava a equipe principal da Scuderia Ferrari com Nuvolari, Farina, Trossi, Tadini e Sommer todos com Alfa 12C 36.
Muito importante de se notar que nesta, a última grande prova internacional antes da Gávea, Stuck com Auto Union fez a pole position na frente das equipes completas de Mercedes, Alfas, e de seus colegas da Auto Union inclusive o primeiro piloto e “astro” Bernd Rosemeyer.
Entenda-se, portanto, que Stuck, em sua última prova antes da Gávea, estava em ótima forma. Stuck terminaria a prova de Trípoli em 4º lugar após uma má largada. Brivio ficaria em 10º lugar logo atrás de Farina com a primeira das Alfa em 9º lugar.
Em 21/5/37 a Mercedes seria vista treinando em Avus e testando novos pilotos.
Em 30/5/37 no ultra rápido circuito de AVUS (VI Internationales Avus Rennen) nenhum dos personagens da Gávea estava presente. A Auto Union estava com Romemeyer, Von Delius, Fagioli e Hasse e a Mercedes Benz com Caracciola, Lang, Von Brauchitsh e Seaman. A Scuderia Ferrari embora com uma inscrição hipotética de Nuvolari Brivio e Farina não compareceu, vendo que não teria nada a fazer inclusive porque famosamente a Mercedes e Auto Union tinham inscrito alguns de seus carros em versão carenada aerodinâmica “Streamlined” construídos especialmente para esse circuito.
Brivio, já designado para a Gávea, não iria de qualquer modo devido ao pequeno intervalo de apenas uma semana entre uma prova e outra.
No mesmo dia da prova ded Avus, 30/5/37, a Scuderia Ferrari mandou Trossi, Tadini e Villoresi para correr e vencer uma prova menor na Itália, o Circuito della Superba em Genova.
Daí vamos direto para a prova da Gávea em 6/6/37 que será objeto de nosso exame minucioso nos capítulos seguintes.
Foto: Icônica imagem da prova no circuito de Avus (Berlim) em maio 1937 vendo-se as soberbas Mercedes Benz W 125 de Caracciola (35) e Auto Union Tipo C de Rosemeyer (31) com suas fascinantes carrocerias aerodinâmicas (streamlined).
LOGO DEPOIS
Fica óbvio também que a temporada européia estava “pegando fogo” e por isso as grandes equipes nem poderiam mandar seus maiores ases para a Gávea nem muitos carros.
Na semana seguinte da Gávea, ou seja, em 13/6/37 foi realizada a Copa Eifel ou Eifelrennen em Nurburgring, simplesmente a mais importante prova alemã depois do GP da Alemanha e realizadas no mesmo circuito.
Para melhor entendimento a prova de Avus, a Copa Eifel e o GP da Alemanha eram as três provas oficiais do “campeonato alemão” que definiam o piloto campeão alemão (os postulantes poderiam ser apenas pilotos alemães, independente das nacionalidades de outros competidores).
Na “Eifelrennen” estavam Rosemeyer, Fagioli, Von Delius, Hasse e Müller pela Auto Union, dos quais apenas Fagioli não largou por estar doente mais a Mercedes em configuração “completa” com Caracciola, Von Brauchitsch, Lang, Seaman e Kautz e a Scuderia Ferrari com Nuvolari e Farina no Alfa 12C 36. Ou seja, todos os principais pilotos da época menos, obviamente, Pintacuda, Brivio e Stuck.
Entre 19 e 20/6/37 seriam realizadas as 24hs de Le Mans com vários pilotos europeus de primeira linha e também no dia 20/6 haveria a prova do “Circuito di Milano” que atrairia a Scuderia Ferrari com Nuvolari, Farina e Trossi e a Auto Union com Hasse.
Como nota romântica no mesmo 19/6/37 o grande “ás” da Mercedes Benz, Rudolf Caracciola (então viúvo) se casaria com Alice Hoffman-Trobeck.
E vários pilotos (menos nossos heróis da Gávea) iriam pegar logo em seguida o navio para a Vanderbilt Cup nos EUA em 5/7/37 entre os quais Rosemeyer e Von Delius pela Auto Union; Nuvolari e Farina com os Alfas da Scuderia Ferrari e Caracciola e Seaman pela Mercedes Benz. Como já notamos anteriormente, na Vanderbilt Cup, vencida por Rosemeyer (Auto Union) seguido por Seaman (Mercedes) o sensacional piloto americano Rex Mays participou uma Alfa 8C 35 (“ex-Scuderia Ferrari”) modificada com um compressor de maior capacidade que iria se provar nos treinos mais veloz que as 12C 36 de Nuvolari e Farina, só sendo superada durante a prova entre os carros italianos por um Nuvolari em grande forma, mas que estouraria seu motor antes do fim e iria compartilhar o carro de Farina. Mays foi elogiado por todos, inclusive Nuvolari, e se acreditava em um hipotético convite para correr na Europa com a Scuderia.
PINTACUDA, BRIVIO E STUCK voltam às corridas européias
Na semana seguinte, em 11/7/37 o haveria o GP da Bélgica, sem os ases que tinham ido para a Vanderbilt Cup nos EUA.
A Mercedes seria representada por Lang, Von Brauchitich e Kautz. Só nessa ocasião Stuck reapareceria na Auto Union ao lado de Hasse (futuro vencedor) e de Muller contra as Alfas da Scuderia Ferrari dessa vez apenas com Trossi e Raymond Sommer.
Stuck estaria novamente presente no dia 25/7/37 para o GP da Alemanha também (com as equipes completíssimas de Auto Union e Mercedes), mas Pintacuda e Brivio apenas reapareceriam com as Alfas da Scuderia Ferrari em 8/8/37 para o GP de Mônaco ao lado de Nuvolari e Farina.
Foto: O GP de Monaco de 1937 seria o primeiro reencontro pleno de todos os heróis da Gávea. A imagem do evento não poderia ser melhor do que este magnífico poster do célebre ilustrador francês do automobilismo Georges Hamel ou simplesmente “Geo Ham”.
Assim o GP Monaco de 1937 foi o primeiro reencontro “completo” dos heróis da Gávea – Pintacuda, Stuck e Brivio - embora nenhum deles tenha se sobressaído e a prova até hoje é mais recordada pelo monumental duelo dos pilotos da Mercedes Benz, Caracciola e Von Brauchitsch com vitória deste último.
Foto: GP de Monaco de 1937 foi a primeira prova que viu o “reencontro de Stuck, Brivio e Pintacuda na Europa”, mas nenhum dos três se destacou. O ponto alto da prova foi o espetacular duelo das Mercedes de Von Brauchitsch nº10) e Caracciola (nº 8).
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