Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 24)
• Por Alfa Romeo Clube do BrasilCapítulo 24 do incrível artigo elaborado por Alberto Maurício Caló sobre o Circuito da Gávea.
CIRCUITO DA GÁVEA – 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro
(CAPÍTULO 24) Por Alberto Maurício Caló
CONTINUAÇÃO QUADRO DE PILOTOS
BENEDICTO LOPES
Brasil
Equipe: Particular
Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza chassis 2311213
Benedicto Moreira Lopes (1904-1989) o “campineiro voador” foi mecânico e depois dono de oficina e teria dado seus primeiros passos no esporte com o incentivo do mesmo comendador (italiano radicado em Campinas) Dante di Bartolomeo, que era o preceptor da Escuderia Excelsior que tinha como volantes Chico e seu irmão Quirino Landi. Como já explicamos acima essa equipe ficaria célebre entre 1934-1939.
Segundo consta, Di Bartolomeo teria emprestado a Lopes o Bugatti com qual ele participaria da sua primeira Gávea de 1934. Lopes se mudaria para o Rio no ano seguinte e instalaria uma (posteriormente duas) oficinas, presumindo-se que o tenha feito em parceria com seu amigo e colega de corridas Luis Tavares de Moraes que seria visto com ele na Gávea de 1935 como co-piloto de um biposto Ford 34 “adaptado”.
Nessa famosa Gávea de 1935 marcada pelo trágico acidente de Irineu Correa em outro Ford V-8 adaptado, a dupla liderou e quase arrebatou a prova.
Lopes seguia na liderança quando a três voltas do final se chocou com o carro de Filipe Rueda então retardatário, em um episódio controvertido.
O jovem Benedicto Lopes foi logo identificado como um grande talento. Aqui ele é visto com o Ford V-8 adaptado com o qual começou a se destacar nas provas brasileiras
Em 1936 Lopes, muito perspicaz entendeu logo que o nível dos concorrentes estava muito mais alto e tentou, sem sucesso, comprar a Alfa 8C 2300 Monza de Helle Nice (chassis 2311213) antes da prova da Gávea daquele ano.
Foto: (montagem fotográfica Diário da Noite). Desde a Gávea de 1936 Benedicto Lopes estava de olho na Alfa de Helle Nice conforme noticiado pelo Diário da Noite de 4/6/36 e teria oferecido 60 contos de réis pela Alfa. O preço – como veremos- seria reduzido após o GP de São Paulo.
Sem conseguir comprar a Alfa no Rio, prova em que a francesa enfrentou diversos problemas depois de partir na primeira fila, Lopes foi a São Paulo para disputar o GP de 1936 (do qual, por fim, não teria participado, por um atraso na inscrição),
Como sabemos, em São Paulo a Alfa da francesa correspondeu plenamente.
Sem poder chegar perto das Alfas 2.900 A “botticella” de Pintacuda e Marinoni, Helle Nice se envolveu em uma emocionante disputa pelo terceiro lugar com Manuel de Teffe, (também ele com Alfa 8C 2300 Monza). Do trágico acidente que resultou dessa disputa, sobrou a Alfa Monza da francesa muito danificada.
Mas Lopes iniciou entendimentos com Arnoldo Binelli, mecânico de Helle Nice, enquanto a francesa se recuperava após o acidente
Lopes e seus familiares, em depoimento posterior, confirmaram ter comprado a Alfa da piloto francesa que, de volta a Europa teria inclusive ajudado Lopes a fazer os contatos necessários para compra de peças na Europa para restauração do carro. Segundo o depoimento de Lopes o preço final da Alfa danificada teria sido 25 contos de réis ( i.e um bom desconto sobre os 60 contos oferecidos e recusados antes da Gávea de 1936.
Foto: (site Bandeira Quadriculada) No GP de São Paulo de 1936 a magnífica Alfa 8C 2300 Monza de Helle Nice estava pintada em dois tons de azul e apelidada pela imprensa paulista de “Flecha Azul” ou “Pássaro Azul”. A francesa mostra todo seu estilo ao caprichar a tangência de uma das curvas do Circuito do Jardim América. Na foto ao lado direito aparece a parte frontal da Alfa após o terrível acidente.
Lopes estaria de volta na prova de Subida de Montanha de Petrópolis com a Alfa 8C 2300 Monza (chassis 2311213) devidamente restaurada e com uma nova carroceria biposto com a frente atualizada ao estilo das alfas mais novas.
Aqui precisamos fazer algumas observações. Embora se diga que a Rádio Record tenha feito uma campanha para captar recursos para a recuperação do carro de Helle Nice, pouco se sabe sobre seu resultado, acreditando-se que a campanha tenha sido em prol das vítimas do desastre ou para a piloto;
Como toda restauração de um carro acidentado, a carroceria azul deve ter sido separada do chassis, presumindo-se que com base nela os funileiro de Lopes tenham construído praticamente uma outra carroceria, ainda biposto.
Possivelmente Lopes e seus funileiros que “atualizaram” e trocaram partes -ou toda- carroceria do carro mas ainda deixaram a Alfa Monza na configuração “biposto” do modo que apareceu na Gávea de 37 e nas provas que Lopes fez logo em seguida em Portugal (Villa Real e Estoril) às quais foi a convite do Automovel Clube de Portugal e com o incentivo e eventual apoio financeiro do já citado Comendador Sabbado D` Angelo e de Arnaldo Borghi.
Testemunhos dão conta que nas provas seguintes em Portugal (Vila Real em 25 de julho de 1937 e Estoril em 15/7 /37) o carro era basicamente amarelo com detalhes verdes e, pelas fotos estava reconstruído como um biposto levemente modernizado principalmente na grade.
Feita essa ressalva sobre a carroceria e sem prosseguir nos detalhes da vida subsequente do carro, parece incontroverso que o carro de Lopes na Gávea de 1937 era a 8C 2300 Monza ex Helle Nice (chassis 2311213).
Foto: Após a Gávea de 1937, Benedicto Lopes foi fazer sua famosa temporada em Portugal com a mesma Alfa (ex-Helle Nice). Aqui ele é visto no Circuito do Estoril. Notem que a 8C 2300 Monza foi restaurada com uma grade levemente modernizada mas ainda com uma carroceria biposto pintada nas cores oficiais brasileiras ( amarelo com chassis e rodas verdes).
Lopes teria ainda uma longa carreira e algumas vitórias com essa e outras Alfas (inclusive nos Circuitos do Chapadão em Campinas e da Quinta da Boa Vista no Rio) sendo que o chassis 2311213 a uma certa altura passaria a ser visto com o conhecido piloto Luiz Tavares de Moraes que se associaria a Lopes em uma oficina no Rio e dai para o piloto Oldemar Ramos.
Lopes conseguiria um bom quarto lugar na prova inaugural do Circuito de Interlagos em 1940 ainda com Alfa. Depois da Guerra seria visto em Maseratis assinalando nova vitória no Circuito da Quinta da Boa Vista em 1947 e em Petrópolis em 1948. Participou da última Gávea em janeiro de 1954 (oficialmente a edição de 1953) com uma Ferrari 166 MM (abandono) e em seguida, aos 49 anos de idade, venceu o III Circuito do Maracanã com Maserati 6CM no que foi a última prova do grande piloto brasileiro.
RUBENS ABRUNHOSA
Brasil
Equipe: Particular
Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza (chassis ?)
O volante carioca Rubem (Rubens) Abrunhosa (1914-1982) então com aproximadamente 23 anos era teoricamente o mais jovem piloto da Gávea de 1937, ainda no começo de uma prolifica carreira no automobilismo nacional. Não conseguimos os dados etários de exatamente todos os pilotos conforme descrito acima, mas cremos que nenhum deles tira de Abrunhosa o título de “jovem talento” presente.
Abrunhosa cuja simpatia o tornou muito querido do público mais tarde se tornou piloto da aviação civil, sendo tratado por “comandante“ ou, pelos mais íntimos, por seu apelido de “bimba” ou, em um trocadilho com Von Stuck, também foi apelidado de “Von Bimba”.
Abrunhosa já vinha de participar da Gávea de 1935 com Hudson e de 1936 com Studebaker
Se Abrunhosa era jovem, sua Alfa na Gávea de 1937 já tinha um “passado”.
Abrunhosa, vendo a superioridade dos melhores carros europeus sobre os “especiais” adaptados localmente se preparou para vôos mais altos e providenciou a aquisição de uma 8C 2300 Monza.
Essa era reputadamente a 8C 2300 “Monza” ex- Manuel de Teffé, e assim precipuamente a 8C Monza usada por Teffé em provas importantes se destacando por exemplo:
a) na Gávea de 1935 (onde abandonou por quebra do diferencial quando estava liderando a prova);
b) em provas argentinas inclusive nas 500 milhas de Rafaela (sexto lugar em 1935)
c) no início de 1936 onde venceu o “quilômetro lançado” na Av. Epitácio Pessoa, (Lagoa, Rio de Janeiro) e na Subida de Petrópolis, abandonando, porém, no GP Termal de Poços de Caldas;
d) na Gávea 1936 onde brasileiro era notoriamente o piloto mais rápido depois da “intocável” Alfa Botticella do líder de Pintacuda. Nessa prova Teffé quase venceu após a quebra de Pintacuda, mas na mesma volta teve que parar para a troca não prevista de uma roda e terminou em terceiro lugar;
e) no famoso GP de São Paulo de julho de 1936 onde obteve o terceiro lugar atrás das invencíveis Botticellas de Pintacuda e Marinoni e onde se envolveu no trágico acidente com a Alfa Monza de Helle Nice na disputa da terceira posição. O resultado do acidente de Helle Nice foram cinco mortes e dezenas de feridos com maior ou menor gravidade;
f) na Argentina em agosto de 1936 quando venceu uma das preliminares do GP da Argentina em Buenos Aires e ficou em quarto lugar na final vencida por Carlos Arzani com a Alfa Botticella, conforme descrevemos acima
g) no início de 1937 quando venceu novamente na subida de Petrópolis;
Na Gávea de 1937 Teffé estava originalmente inscrito com sua Alfa 8C 2300 Monza e depois com a Alfa P3 “presenteada” pelo Automóvel Club Brasileiro (ACB) como narramos nos capítulos acima. Após a polemica sobre a P3 recebida, Teffé acabou suspenso e a Alfa P3 apreendida.
Porém deve ter sobrevivido formalmente uma inscrição original de Teffé com a Alfa Monza, o que causou confusão pois o ACB interpretou que tanto o carro (Alfa Monza) como o piloto (Teffé) estariam suspensos.
No meio tempo Teffé deve ter vendido a 8C Monza para Abrunhosa. o que obrigou Abrunhosa a comprovar a aquisição do carro para o ACB, apresentando um recibo do preço pago e consequentemente “liberá-lo” para a prova
Sem adiantarmos os comentários sobre os treinos dos quais trataremos mais adiante, podemos notar que Abrunhosa deve ter se adaptado rapidamente ao carro e obteve uma classificação razoavelmente competitiva, ficando atrás dos carros mais potentes (Auto Union de Stuck, Alfa 12 C 36 de Brivio as 8C35 de Pintacuda e Arzani, a P3 de Nascimento Junior, a Monza com motor 2600 de Vasco Sameiro a 2.900 A de Carú, a Monza de Benedito Lopes, a Monza (também possivelmente com motor 2600) de Gazzabini e a P3 (que não correria) de Teffé. Vejam a lista de tempos abaixo.
Jornal A Batalha 5/6/37
Foto: A famosa Alfa 8C2300 Monza de Teffé em anúncio publicitário da Esso em 1936. Precisamente o carro de Abrunhosa em 1937.
Assim Abrunhosa se classificou exatamente como esperado, mostrando rápida adaptação a seu novo carro, mas claro, se deu conta que uma 8C 2300 já não era tão competitiva como fora nas Gáveas de 1935 e 1936 e obviamente já estava mostrando sinais de “idade”.
Foto:
A IDENTIFICAÇÃO DA ALFA DE ABRUNHOSA
Sendo perfeitamente claro que a Alfa de Abrunhosa era a 8C 2300 Monza de Teffé, e provavelmente a primeira 8C Monza a chegar ao Brasil, teríamos que tentar identificar seu número de chassis o que passa a ser um trabalho de investigação “por eliminação”.
Vejamos as outras Alfas 8C Monza presentes na Gávea de 1937:
a) o Monza de Vasco Sameiro: embora pesem dúvidas sobre a identificação mas quase certamente era o chassis 2211135 equipado com o motor 8C 2211081. O certo é que esse carro voltou a Portugal em 1937 e Sameiro venceria com ele o Circuito de Vila Real logo em seguida. Conforme explicamos acima em 1940 Sameiro voltou ao Brasil com uma Alfa Monza para a corrida inaugural de Interlagos. Esse chassis, que, a princípio seria o mesmo visto na Gávea de 1937. Após a volta com Sameiro em 1940 esse chassis foi reputadamente vendido ao piloto mineiro, Rodrigo Valentim de Miranda e desse a Osmar Lage e Aloysio Fontenelle.
b) o Monza de Almeida Araújo era o chassis 2211138, carro que seria vendido e teria histórico posterior no Brasil com Newton Teixeira;
c) O Monza de Benedito Lopes era o chassis 2311213 (ex – Helle Nice) carro que também teria histórico posterior no Brasil com Luiz Tavares de Moraes e Oldemar Ramos, e
d) o Monza de Gazzabini, provavelmente o chassis 2211128, carro que também teria histórico posterior no Brasil com Chico Landi e outros pilotos inclusive Benedicto Lopes e Antonio Parra;
Eliminando os números de chassis das Alfas Monza acima e tentando identificar outras 8C Monza que ficaram no Brasil chegamos a poucas alternativas.
HIPÓTESE PRELIMINAR
Mas como teria sido a sequência de propriedade do carro a partir de Teffé?
Em maio de 1938 o jornal “O Imparcial” de 7/5/38 confirma que Luis Cañedo iria participar da Gávea com a Alfa que tinha pertencido a Teffé
Mas há um imbróglio envolvendo outro conhecido piloto Henrique Casini e Luz Cañedo.
Independente do “imbróglio” entre Henrique Casini (grafado como Henrique Cassine) e Cañedo emerge a história que Cañedo teria comprado o carro diretamente a Teffé e não à Abrunhosa.
Teria sido o recibo firmado por Teffé um documento “pró-forma” apenas para Abrunhosa poder participar da Gávea de 1937 ?.
Foi esse documento pró-forma que permitiu a Abrunhosa também participar com o carro em seguida (setembro de 1937) prova do Circuito do Chapadão em Campinas- SP?
Será que, de fato, o carro nunca foi de Abrunhosa e só foi vendido “para valer” diretamente de Teffé para Cañedo?
E Cañedo para compra-lo teria feito um empréstimo junto a Casini dando o carro em garantia. Sem receber, Casini teria executado a garantia, se apropriando do carro, criando um “imbróglio” narrado na notícia acima
Fato é que de algum modo Cañedo e Casini chegam a um acordo e Cañedo fica com o carro e o “compartilha” na Gávea de 38 com João Alfredo Braga
No primeiro Circuito da Gávea Nacional de 1938 Luis Cañedo já estava inscrito com o Alfa Monza (ex-Abrunhosa e Ex Teffé) tendo João Alfredo Braga como co-piloto. Luiz Cañedo era um carioca que havia residido em Portugal onde já tinha participado de algumas provas como os Circuitos da Boa Vista, do Porto e de Lisboa. João Alfredo Braga era um piloto experiente e tinha participado da Gávea de 1936 com um Bugatti.
Note-se que Abrunhosa estava na mesma prova com um híbrido Bugatti Studebaker (Bugatti T35-A chassis 4877 com motor Studebaker) confirmando que Abrunhosa ficou pouco com a Alfa.
Ao fim de três voltas na Gavea Nacional de 1938 Cañedo cedeu o carro para João Alfredo Braga que assumiu o volante e terminou a prova em um ótimo terceiro lugar.
Foto: Diário da Noite 30/5/38. Na “Gávea Nacional” de 1938 (destinada unicamente à participação de pilotos brasileiros) João Alfredo Braga e Luiz Cañedo conduziram a Alfa Monza (ex ´Teffé e ex- Abrunhosa) para um ótimo terceiro lugar e foram soberbamente capturados pela câmera do fotógrafo do Diário da Noite.
João Alfredo Braga reapresenta o carro na Gávea Internacional de 1938 mas sofre um acidente com o mesmo derrapando e atingindo onze espectadores muitos dos quais da mesma família.
ENTÃO:
Aparentemente então podemos presumir que a Alfa Monza ex-Teffé, ex- Abrunhosa e ex- Cañedo fora vendida em 1939 por Canedo a Jacintho Abitam que a revendeu a Nascimento Jr.
Essas passagens dão a entender também que João Alfredo Braga, pilotou o carro nas duas Gáveas (Nacional e Internacional) em 1938 mas não era o proprietário. A propriedade continuaria de Luiz Cañedo
Conforme informação originária do Dr. Antônio Carlos Buarque de Lima, o livro de Simon Moore aponta que durante a propriedade de Jacintho Abitam o carro teria aparecido nas mãos de Quirino (ou Querino) Landi na Gávea nacional de 1939.
É importante notar que as listas da Gávea de 1939 são dúbias, sugerindo que Querino Landi estaria com o Fiat Rosa Especial. Mas como esclarecemos acima, o Fiat estava já com Santos Soeiro; Querino estava no Alfa Monza que o empresário Jacintho Abitam comprara de Luiz Cañedo.
Naturalmente, esse Alfa Romeo 8C 2300 Monza sendo um comprado em 1939 ao empresário carioca Jacintho Abitam, antes pertencente a Manuel de Teffé e ao corredor português residente no Brasil Luís Canedo era o carro de Abrunhosa na Gávea de 1937.
Por algum motivo, não caro, mas certamente não por necessidade de equipamento, Nascimento Jr. compra o carro de Jacintho Abitan em algum momento no segundo semestre de 1939. Lembre-se que Nascimento Jr, nessa época, já possuía a 8C 35 ( ex Arzani) muito mais competitiva
Conforme o Dr. Buarque de Lima, Nascimento Jr cedia seus carros a pilotos de sua confiança, mediante condições.
Curiosamente em 1940 Nascimento Jr. emprestou o Monza, ex-Teffé, ao próprio Manoel de Teffé, para treinar para a corrida inaugural de Interlagos. Imaginamos que tenha sido um empréstimo para reconhecimento da nova pista. Teffé participaria nessa prova inaugural de Interlagos com seu Maserati 6CM (voiturette- 1,5 com compressor)
Mas carro reapareceria efetivamente na prova inaugural do Circuito de Interlagos (12/5/40) cedido a Ary de Almeida largando de um distante 15º lugar do grid com 4`53”5 enquanto Nascimento Jr estava na “pole-position” com a 8C 35 com 4`09”5
Fato é que o próprio Nascimento Jr venceu tranquilamente a prova de inaugural de Interlagos com sua Alfa 8C 35 (ex- Carlos Arzani).
Pouco depois, ao vender a 8C 35 para Oldemar Ramos, Nascimento Jr recebe a Alfa Monza 2311213 (ex – Helle Nice) em parte de pagamento.
Conforme narra o conhecido Engenheiro Aeronáutico carioca e historiador do automobilismo Dr. Antônio Carlos Buarque de Lima, Nascimento Jr, já citado em outro capítulo, ao se afastar (temporariamente) das pistas no início dos anos 40 tinha juntado uma frota de carros de corrida que lhe vieram por compra ou como parte de pagamento dos carros que usara ou vendera durante a carreira entre os quais:
- dois Fords V-8 1934 adaptados – o utilizado por ele mesmo nas temporadas de 1936 e 1937, e o famoso Ford V-8 “ex-Irineu Corrêa” recebido de Geraldo Avelar como parte do pagamento de seu Alfa Romeo P3 usado por ele Nascimento Jr. Gávea de 1937 e citado nos capítulos acima; mais
- dois Alfa Romeos 8C 2300 Monza sendo um comprado em 1939 ao empresário carioca Jacintho Abitam, antes pertencente a Manuel de Teffé e ao corredor português residente no Brasil Luís (ou Luiz) Cañedo. O outro Alfa Monza era eventualmente o chassis 2311213 (ex – Helle Nice) recebido de Oldemar Ramos como parte do pagamento do Alfa Romeo 8C 35.(ex Carlos Arzani) também já citado em outro capítulo deste texto
Aparentemente o carro não estava na Gávea Nacional em dezembro de 1940 onde estava Rodrigo Valentim Miranda com a Monza “ex Vasco Sameiro” (chassis 2211135) e uma Monza não identificada com Fábio Andrada mas cujo carro também era citado como uma mais antiga Alfa Romeo RL com motor Ford V-8. Fábio Andrada era um piloto mineiro que já tinha sido visto na inscrição da Gávea Nacional de 1938, onde efetivamente não participou, e que tinha experiencia anterior em rallys e provas com Ford V-8. De qualquer modo as tabelas de classificação indicam que essa última Alfa de Fábio Andrada teria completado apenas uma volta.
Chegamos assim à “Gávea da Guerra”, ou seja, a edição de 1941. Consta que Nascimento Jr. foi ao Rio de Janeiro assistir à corrida e levou o Monza chassis 2311213, ex-Oldemar Ramos, ex-Benedicto Lopes e ex-“Hellé-Nice”, para uso de Rubem Abrunhosa, o qual teria experimentado o carro em treino, mas teria declinado de usá-lo devido ao fraco desempenho, preferindo voltar ao usar o Woerdenbag com um motor Studebaker de sua vitória de 1940 (conforme veremos adiante). Aparentemente logo em seguida Nascimento Jr vende o chassis 2311213 a Armando Sartorelli que imediatamente a inscreve na prova.
Nessa Gávea de 1941 o veterano Armando Sartorelli se apresentou com uma Monza que seria o chassis 2311213 (ex – Hellè Nice) enquanto Rodrigo Miranda (Rodrigo Valentim Miranda) estava com a Monza “ex Vasco Sameiro” (chassis 2211135). Na Gávea de 1948 Annuar de Góes também é listado na inscrição com uma Alfa Monza, mas não comparece. Mas ali estaria Antonio “Nino” Stefanini com a Monza 2211138 (ex Almeida Araujo e Newton Teixeira). Em 1949 que é a vez de Carlos Soares se inscrever e não largar com uma Alfa Monza não identificada mas esse mesmo ano de 1949 sancionou as últimas aparições de Alfas 8C Monza na Gávea sendo Nino Stefanini com a Monza chassis 2211138 mais a Monza chassis 2211135 de Aloysio Fontenelle (ex-Vasco Sameiro) que terminou em um honroso quarto lugar
Como sabemos, infelizmente Nascimento Jr faleceu precocemente em 1945 de forma que seu estoque de carros Grand Prix (os dois Fords V-8 e uma Alfa Monza) que devem ter “ficado na garagem“ entre 1941 e 1945, passando a ser propriedade de seu espólio.
Feitas essas considerações sobre a sequência de proprietários da Alfa Monza (ex-Teffé) que correu com Abrunhosa a Gávea de 1937, podemos eliminar outras quatro numerações de chassis de Monzas que ficaram no Brasil.
A de Gazzabini, a de Benedicto Lopes, a de Almeira Araújo e a de Vasco Sameiro
Para um comentário adicional, voltamos então às informações que uma 8C 2300 Monza da terceira série “ex-scuderia Ferrari” teria sido encontrada e “resgatada” no Brasil que seria o chassis 2311216, carro que teria constado da coleção do Museu Eduardo Andrea Matarazzo em Bebedouro, Estado de São Paulo, no Brasil e posteriormente exportado através do célebre “caçador” de carros antigos Colin Crabbe.
Porém, Simon Moore anota que a identificação desse carro como 2311216 no livro “The Thrill of the Chase” seria um engano de Colin Crabbe e que o carro do Museu de Bebedouro seria o chassis 2211135 equipado com o motor 8C 2211081 (ex- Vasco Sameiro). Simon Moore em outra parte de seu livro identifica o histórico do chassis 2311216 que é completamente diferente.
Voltando ao carro de Abrunhosa (ex-Teffé) esse carro teria sido objeto de uma especulação de se tratar de um “ex-Scuderia Ferrari” o que não podemos confirmar, mas é perfeitamente possível que Teffe tenha comprado um da Scuderia Ferrari que esteve envolvida no comércio de várias Alfas Monza e se prontificava a reformar/restaurar/pintar esses carros para os novos donos. A Alfa de Teffé chegou ao Brasil em muito bom estado repintada de amarelo claro com chassi inferior e rodas pintados em verde escuro, nas cores oficiais brasileiras. Esse carro apareceu na Gávea com Teffé inicialmente em 1935, período em que a Scuderia já estava começando a “despachar” suas Monzas para pilotos particulares. Teffé tinha morado e tinha corrido na Itália e entendia bem o mercado local e distinguia certamente os carros bem preparados tanto que “estrilou” com vigor quando recebeu em 1937 a Alfa P3 por doação do ACB, quando rapidamente constatou o mau estado do carro, conforme já descrevemos neste texto.
Sendo uma ex Scuderia Ferrari a Alfa de Teffé deveria ter uma numeração interna da Scuderia Ferrari (SF número ?) Por fim, se sabe que algumas Alfas Monza da Scuderia Ferrari foram construídas internamente e jamais tiveram uma numeração de chassis da Alfa Romeo, mas apenas uma numeração SF.
Como sabermos que o carro de Abrunhosa em 1937 era um outro chassis (que não o de Almeida Araújo nem o de Vasco Sameiro, nem o de Benedicto Lopes e nem o de Carlo Gazzabini) esse chassis permanece até hoje “não identificado” e portanto é referido U21 ou Undentified 21 (o desconhecido 21) conforme citado por Simon Moore em seu livro ou ainda, como mera hipótese, poderíamos cogitar que fosse uma das misteriosas Alfa Monza que nunca tiveram uma numeração da Alfa Romeo, mas somente uma numeração da Scuderia Ferrari.
NA SEQUÊNCIA DA CARREIRA DE ABRUNHOSA
Como falamos, após a Gávea de 1937 Abrunhosa estaria presente logo em seguida (setembro de 1937) no mesmo Alfa Romeo 8C 2300 Monza na prova do Circuito do Chapadão em Campinas/SP mas em determinado momento no final de 37 ou início de 38 o carro é repassado a Luis Cañedo. Abrunhosa segue carreira aparecendo no mais das vezes no Bugatti-Studebaker citado
O principal feito da longa carreira de Abrunhosa viria depois em 1940 quando famosamente ganhou a Gávea Nacional com um monoposto feito com muito esmero pela famosa oficina Woerdenbag do mecânico/engenheiro holandês Johanes (João) Woerdenbag Sua oficina no Rio Janeiro, como já citamos anteriormente, atendia com notória capacidade os carros mais exóticos e luxuosos carros da elite carioca.
Claro que o Brasil já tinha construído através de vários mecânicos engenheiros e preparadores vários especiais de corrida com diferentes motorizações, mas o da Woerdenbag sem dúvida impressionou pela beleza de suas linhas, claramente inspiradas em um Mercedes Bens W 25 Grand Prix e pela cuidadosa construção e um muito bem preparado motor Studebaker (acreditamos ser um “studebaker president”de 8 cilindros em linha com aprox.. 4,1 litros)
Foto: O lindo Woerdenbag com um motor Studebaker catapultou Abrunhosa para o estrelato com uma imediata vitória na Gávea “nacional” de 1940 (para os pilotos brasileiros exclusivamente).
No pós-guerra, Abrunhosa ainda faria uma tentativa de carreira internacional tendo sido visto com Chico Landi na Itália em 1948 onde algumas notícias davam conta que supostamente poderia pilotar uma das Maseratis da equipe de Enrico Platé no GP de Bari mas isso não teria se confirmado e embora Abrunhosa estivesse ali presente teria preferido não “alugar” um outro carro sem condições. Abrunhosa seguiria correndo no Brasil e ainda participaria da Gávea até a edição de 1952.
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