Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 23)
• Por Alfa Romeo Clube do BrasilCapítulo 23 do incrível artigo elaborado por Alberto Maurício Caló sobre o Circuito da Gávea.
CIRCUITO DA GÁVEA – 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro
(CAPÍTULO 23) Por Alberto Maurício Caló
CONTINUAÇÃO QUADRO DE PILOTOS
VASCO SAMEIRO
Portugal
Equipe: Vasco Sameiro / Frederico Abecassis
Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza (chassis 2211135 com motor 2.6 litros número 2211081)
Fotos: Vasco Sameiro, o lendário piloto português era um dos grandes astros da Gávea (à esquerda foto Correio da Manhã 6/6/37 e à direita “A Noite” de 6/6/37) e foi dos mais assediados pela imprensa brasileira para fotos e entrevistas.
Fotos: (Correio da Manhã 7/6/37) Acima visto isolado e na foto abaixo a Alfa 8C Monza de Sameiro (número 38) persegue a Alfa P3 de Nascimento Jr. na Av. Niemeyer, em uma das melhores disputas da prova de 1937.
Vasco Sameiro (Vasco Santiago Ribeiro Pereira do Sameiro) já tinha uma respeitável e bem-sucedida carreira internacional. Seus irmãos Gaspar e Roberto também foram pilotos. O célebre piloto de Braga (mais exatamente do distrito de Rossas em Vieira do Minho), venceu o circuito de Vila Real, uma das mais famosas provas portuguesas, com um Invicta em 1932. Nesse mesmo ano venceu em Campo Grande e no Circuito da Boa Vista. Mas foi a partir de 1933 que a carreira internacional de Sameiro “decolou”. vencendo novamente em Vila Real e ficando em um excelente segundo lugar no GP de Penya Rhin em Montjuic, Barcelona, prova emocionante que foi dominada pela Alfa de Nuvolari, até que o ás italiano sofresse problemas mecânicos para terminar em quinto lugar.
A partir de 1932 Sameiro apareceu em uma Alfa “Monza” e começou a ser um dos principais protagonistas das provas portuguesas, tornando-se lendária sua rivalidade com outro astro português Henrique Lehrfeld que usualmente corria com Bugatti, reproduzindo o clássico europeu “Alfa x Bugatti” nas pistas lusitanas.
Frederico Abecassis (primo do famoso George Abecassis conhecido piloto inglês e famosamente sócio da HWM que teve passagens pela F-1 nos anos 50) era o proprietário do primeiro Alfa 8C 2300 Monza que Sameiro usou em Portugal com grande sucesso e normalmente pintado de branco. Esse Alfa teria sido adquirido em 1932 e Sameiro o pilotou com muito sucesso tanto nas provas portuguesas como espanholas e britânicas, passando rapidamente à condição de maior piloto português daquele tempo.
Já no final de 1935 dizem que Abecassis teria comprado um segundo 8C 2300 Monza com várias características especiais (e com o motor 2600) um carro apresentado em vermelho.
Sabe-se que Sameiro pilotou esses dois Alfas Monza, sendo apontado que a Alfa Monza de Sameiro na Gávea de 1937 era o chassis 2211135.
Existe a versão de que as duas Alfas de Abecassis que Sameiro pilotou (a branca e a vermelha) seriam sempre o mesmo chassis que, a certa altura teria voltado à Itália para ser reformado. O carro teria recebido algumas características especiais de Alfas mais novas, inclusive uma grade de radiador semelhante às Alfas P3, o novo motor 2.600 e teria sido repintado de vermelho.
Seria um “aggiornamento” para manter a Monza competitiva? Curiosamente algumas biografias de Sameiro davam realmente conta de que o volante português estivera fazendo testes na Itália em meados dos anos 30.
Mas seriam testes na mesma Alfa Monza após sua revisão e “upgrade” ou uma “outra” Monza com o motor 2600?
Como o chassis 2211135 apareceu na Gávea de 1937 e depois foi resgatado com o motor 2211081 existe também a hipótese de que esta seja o número do chassis original da Alfa Monza Branca do qual algumas peças (inclusive o motor) tivessem transitado para o chassis 2211135.
Em termos de emplacamento de trânsito português, o chassis 2211135 é vinculado à Alfa que usava placas do Porto MN 2589 registrada em nome de Vasco Sameiro em 1936. Esse seria o mesmo carro que no antigo sistema português de matriculas ostentava a placa do norte N 12589 registrada em 1933 nome de Abecassis e Sameiro. Ou seja, a troca de placas seria uma mera mudança no sistema de emplacamento, o que poderia confirmar a tese de se tratar do mesmo carro incialmente branco e depois reformado e atualizado ostentando a cor vermelha.
Pelo histórico, a Scuderia Ferrari fazia esses “upgrades” nas Monzas com o novo motor 2600 e várias modificações. A pintura de vermelho poderia ser por conta de que as cores oficiais de Portugal nas pistas eram o vermelho, só que no caso para sermos mais corretos deveria ser complementado com chassis e rodas brancas, o que, aliás, era a configuração estética da Alfa de seu colega português na Gávea, José de Almeida Araújo do qual falaremos em seguida.
É sabido, porém, que algumas das Alfas 8C 2300 Monza da Scuderia Ferrari, já foram montadas com o motor 2.600 ou 2557cc) de 216 hp vindo do Alfa monoposto tipo B ou P3 embora especialistas ressaltem que o 2.6 do P3 era um motor diferente com 2654 cc.
Pelas anotações de Simon Moore, parece certo que na Gávea de 1937 o chassis 2211135 estava equipado com o motor 8C 2211081.
Por outro lado, no final de 1935, poderia fazer sentido um upgrade no mesmo carro, pois a Monza, com as devidas adaptações, (para lamas, faróis) poderia servir tanto ao regulamento de carros esporte como às corridas de Grand Prix na maioria dos países. E isso foi exatamente a idéia de Sameiro para o uso posterior do carro.
Se a idéia fossem apenas corridas de “Grand Prix” em 1935 já deveriam existir várias P3 monosposto de “segunda mão” disponíveis na própria Scuderia Ferrari.
Certo é que o carro de Sameiro (seja o chassis 2211135 ou outro) voltou a Portugal após a Gávea de 1937 e Sameiro venceria com ele o Circuito de Vila Real logo em seguida;
Fotos: (site “os Heróis- Portugal”) Em sua experiência internacional, Sameiro também participou de provas na Grã Bretanha. Aqui é visto em ação na 8C 2300 Monza pintada de branco no Circuito de Douglas (Ilha de Man) em 3/6/34 seguido pelo Bugatti T51 de Eccles e pela Alfa Monza de Dobson.)
Foto (livro Simon Moore. The 8c story continues) A Alfa Monza com um elegante Sameiro no cais do porto de Lisboa em 14/7/37 retornando de suas “aventuras” no Brasil. A Alfa está com o mesmo número 38 usado na prova notando-se a placa da Cidade do Porto MN 2589
Conforme veremos mais adiante, na Gávea de 1937 Vasco Sameiro com seu carro equipado motor 2.600, deu muito trabalho às Alfas mais modernas.
Os dois Alfas “portugueses” na Gávea eram vermelhos sendo fácil identificar que o que tinha chassis e rodas claras era o 2300 Monza de Almeida Araújo.
Sabe-se, por fim, que o carro de Sameiro (seja o chassis 2211135 ou outro) foi resgatado na América do Sul depois de passar pela mão vários proprietários. Após a volta de Sameiro em 1940 para a corrida inaugural de Interlagos, esse carro foi reputadamente vendido ao piloto mineiro Rodrigo Valentim de Miranda e desse a Osmar Lage e Aloysio Fontenelle.
Independente da numeração do chassis, acredita-se que o carro visto em Interlagos em 1940 era o mesmo carro mesmo tinha as características especiais do 8 C Monza usado por Sameiro na Gávea de 1937.
A ALFA MONZA DO MUSEU DE BEBEDOURO
Propaganda ilustrada do Museu Eduardo Matarazzo na década de 70 eventualmente apresentando a Alfa Monza acima à direita.
Foto: Rara imagem da A Alfa 8C Monza do Museu Eduardo Andre Matarazzo de Bebedouro SP possivelmente em anúncio promocional da Promax-Bardahl. Carro posteriormente vendido à Europa. (foto site carros hi7.co) Notem o radiador polido e as aletas de ventilação na moldura do radiador ao estilo das Alfas P3 e não das “Monzas”.
Outra foto da Alfa Monza no Museu de Bebedouro SP, como sempre destacando a opção dos restauradores do museu em apresentar a parte frontal polida e não pintada na cor do carro. (foto site carros hi7.co)
O tratamento frontal da Alfa Monza do Museu de Bebedouro, com suas aberturas de ventilação mais estreitas estava “ao estilo das Alfas P3” posteriores e neste caso lembra o tratamento frontal da Alfa Monza 2600 ex Vasco Sameiro (2211135) e alguns atribuem esse número de chassi ao carro que esteve no museu paulista
Só para adicionar, sabe-se que a Monza chassis 2211135 ex-Vasco Sameiro. quando “resgatada” ou “descoberta” no Brasil estava com o motor 8C 2211081 sendo que essa numeração de motor estava ligada a outro chassis usado por Sameiro, Segundo Simon Moore os dois chassis ligados a Sameiro seriam o 2211135 e o 2211081.
No período da Segunda Guerra Mundial Sameiro residiu no Brasil, onde participou de várias provas. De volta à Europa seguiu carreira, voltando algumas vezes para provas brasileiras. Pilotou até os 52 anos encerrando sua carreira após um grave acidente com sua Ferrari 750 Monza no GP de Portugal de 1955 disputado no Circuito da Boa Vista.
JOSÉ ALMEIDA ARAÚJO
Portugal
Equipe: Particular
Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza (chassis 2211138)
Soberba imagem do volante português José Almeida Araújo em foto do Jornal “A Noite” 6/6/37. Com luvas, jaqueta branca, lenço no pescoço o piloto parece pronto para uma apresentação em grande estilo.
José Almeida Araújo já tinha sido visto na Gávea de 1935 onde obteve um ótimo terceiro lugar com um Bugatti T 37-A. Nessa emocionante prova de 1935 Benedicto Lopes (Ford V-8 adaptado) vinha liderando, mantendo à distância o ítalo-argentino Ricardo Carú (Fiat adaptado) que vinha em disputa com o astro português Henrique Lehrfeld (Bugatti). Almeida Araújo seguia em quarto lugar. Após o acidente de Lopes, Almeida Araújo se estabeleceu em um ótimo terceiro lugar em sua primeira apresentação na Gávea. Não retornou em 1936, mas em 1937 o piloto português reapareceu um Alfa Romeo 8C 2.300 Monza com o famoso motor Alfa Romeo de 8 cilindros em linha e cerca de 165 a 178 hp (conforme versão) construído em 1931. Almeida Araújo, que veio no mesmo navio que seu compatriota Vasco Sameiro, comprou o Alfa em Portugal do piloto amador Manuel José Soares Mendes. O famoso livro de Simon Moore relata que o carro teria sido orginalmente do grande “às” francês Jean Pierre Wimille que teria sido primeiro proprietário do chassis 2211138. Após competir com Wimille em 1933 o carro teria passado por outros proprietários e pilotos franceses na temporada de 1934, sendo inclusive pilotado pelo famoso Raymond Sommer, até ser adquirido por Manuel José Soares Mendes em 1935. O carro chegou em Lisboa em 12/8/35 pintado de azul, sendo rapidamente repintado nas cores oficiais portuguesas (carroceria vermelha com chassis e rodas brancas). Após algumas corridas com Soares Mendes entre o final de 1935 e 1936, o carro é vendido a Almeida Araújo em 23/4/37 bem a tempo deste último revisá-lo e embarcá-lo para o Rio de Janeiro.
Logo após a Gávea de 1937 Almeida Araújo vendeu o carro no Brasil para Newton Alves Teixeira. Existe uma confusão se esse chassis teria sido inscrito e pilotado por George Azevedo Macedo na Gávea Nacional de 1938, mas tudo indica que George Macedo não participou da prova sendo sua inscrição substituída por Newton Alves Teixeira.
De fato, a Revista “Sport Illustrado” nº 7 de 25/5/38, ao narrar os concorrentes da Gávea Nacional (edição da prova da Gávea só para pilotos brasileiros) cita George Azevedo Macedo como estreante na Gávea, mas com experiência em corridas na França. Cita ainda que ele vinha de comprar a Alfa de Almeida Araújo.
Parece então que Newton Alves Teizeira não só substituiu Macedo na operação de compra do carro, como também “herdou” a inscrição na prova. Fica a dúvida se George Macedo chegou a liquidar a operação de compra junto à Almeida Araújo para em seguida revender o carro a Newton Teixeira, ou se este último já assumiu a condição de comprador e liquidou financeiramente a operação junto à Almeida Araújo.
Há também uma segunda confusão porque Newton Teixeira aparece em algumas listas dessa prova com uma Alfa Romeo 6 C 1750, mas se sabe que ele fez a prova com a 8C 2300 Monza. Podemos crer que isso foi uma mera confusão nas litas de inscrição da “ Gávea Nacional de 1938” pois alí era citado um possível estreante chamado José Vieira Monteiro com Alfa Romeo 1750, que efetivamente não participou.
Newton Teixeira também continuou utilizando a Monza chassis 2211138 nas Gáveas internacionais de 1938 e 1939 e na prova inaugural do Circuito de Interlagos em maio de 1940. É considerado que talvez o carro tenha trocado de mãos ainda no período da guerra, mas sem competir. O fato é que no pós guerra, em 1946, o carro passa para as mãos de Antonio “Nino” Stefanini que reaparece com ele em provas nacionais em 1947 e se faz presente na Gávea de 1949, após o que o carro vai passando por longa série de proprietários. Muito mais tarde esse chassis seria resgatado na América do Sul. Com já citamos anteriormente, a Alfa de Almeida Araújo estava nas cores oficiais portuguesas de carroceria vermelha com chassis e rodas brancas. Sua experiência, bom resultado em 1935 e a qualidade de preparação de sua Alfa, colocaram Almeida Araújo entre os favoritos da prova. Abaixo uma magnifica foto na Gávea de 1937 mostra Almeida Araújo na Alfa Monza confabulando com seu mecânico. Notem o piso de paralelepípedos com trilhos de bonde. Ao fundo é visível o bico de uma das Alfas 8C 35 presentes ( possivelmente a 8C 35 nº40 de Pintacuda). Como dissemos, a Alfa Monza seria vendida no Brasil logo após a prova, mas Almeida Araújo teria longa carreira esportiva pela frente. No pós guerra foi importador dos esportivos franceses Talbot-Lago em Portugal. Infelizmente o grande piloto português teria falecido em acidente com seu Talbot Lago T 26 no ano de 1951.
Logo após a Gávea de 1937 Almeida Araújo vendeu o carro no Brasil para Newton Alves Teixeira. Existe uma confusão se esse chassis teria sido inscrito e pilotado por George Azevedo Macedo na Gávea Nacional de 1938, mas a maioria das fontes indica que George Macedo não participou da prova sendo sua inscrição substituída por Newton Alves Teixeira. Há também uma segunda confusão porque Newton Teixeira aparece em algumas listas dessas provas com uma Alfa Romeo 6 C 1750, mas novamente acreditamos que essa era a inscrição original de George Macedo com a 6 C 1750, que foi substituído por Newton Teixeira com a 8C 2300 Monza. O mesmo Newton Teixeira também continuou utilizando a Monza chassis 2211138 nas Gáveas internacionais de 1938 e 1939 e na prova inaugural do Circuito de Interlagos em maio de 1940. É considerado que talvez o carro tenha trocado de mãos ainda no período da guerra, mas sem competir. O fato é que no pós guerra, em 1946, o carro passa para as mãos de Antonio “Nino” Stefanini que reaparece com ele em provas nacionais em 1947 e se faz presente na Gávea de 1949, após o que o carro vai passando por longa série de proprietários. Muito mais tarde esse chassis seria resgatado na América do Sul. Com já citamos anteriormente, a Alfa de Almeida Araújo estava nas cores oficiais portuguesas de carroceria vermelha com chassis e rodas brancas. Sua experiência, bom resultado em 1935 e a qualidade de preparação de sua Alfa, colocaram Almeida Araújo entre os favoritos da prova. Abaixo uma magnifica foto na Gávea de 1937 mostra Almeida Araújo na Alfa Monza confabulando com seu mecânico. Notem o piso de paralelepípedos com trilhos de bonde. Ao fundo é visível o bico de uma das Alfas 8C 35 presentes ( possivelmente a 8C 35 nº40 de Pintacuda). Como dissemos, a Alfa Monza seria vendida no Brasil logo após a prova, mas Almeida Araújo teria longa carreira esportiva pela frente. No pós guerra foi importador dos esportivos franceses Talbot-Lago em Portugal. Infelizmente o grande piloto português teria falecido em acidente com seu Talbot Lago T 26 no ano de 1951.
Foto: magnífica imagem de Almeida Araujo próximo à linha de partida da Gávea, notando-se o piso de paralelepípedos e os trilhos de bonde.
Foto: Em 1951, Almeida Araújo posa com seu Talbot Lago T26 (foto blog o estado das artes – os heróis) meses antes de seu acidente fatal com o mesmo carro, marcando uma das últimas imagens do grande piloto.
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