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Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 16)

• Por Alfa Romeo Clube do Brasil
Capítulo 16 do incrível artigo elaborado por Alberto Maurício Caló sobre o Circuito da Gávea.
Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 16)

CIRCUITO DA GÁVEA – 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro

(CAPÍTULO 16)                                                                         Por Alberto Maurício Caló 



O QUADRO DE CONCORRENTES

Antes de apresentar os concorrentes e seus carros é necessário um esclarecimento. Vamos nos concentrar nos carros e pilotos que efetivamente largaram. Conforme explicaremos depois, alguns que participaram das eliminatórias e dos treinos não largaram e alguns dos pilotos “bem cotados” para uma boa apresentação como Coppoli e Landi que largaram sem assinalar tempo nos treinos.

 

OS PILOTOS

Feito o esclarecimento do parágrafo acima nossa intenção não será apresentar uma biografia completa de cada piloto, mas informar quem ele era e o que representava no ponto de sua carreira em junho de 1937. Claro que embora alguns deles estavam no “ápice” de suas carreiras, outros em fases mais iniciais e outros já em uma fase de declínio.  

 

ALEMANHA: O único alemão, Stuck (nascido na Polônia, de ascendência suíça e nacionalidade alemã), estava no auge de sua carreira. Piloto efetivo de Grand Prix da Auto Union era uma grande estrela internacional embora na Auto Union por vezes eclipsado por Varzi e depois Rosemeyer e depois Nuvolari, Stuck era reconhecidamente um astro internacional de primeira grandeza. Sobre a Auto Union trazer um único carro podemos atribuir também à temporada européia. Sempre frisando que em 1937 Stuck, após o grande Rosemeyer era uma base de sustentação da Auto Union. Não só ele tivera uma presença constante em todo período da equipe (1934 a 1939), como foi inicialmente seu primeiro piloto, tendo que ceder seu posto às estrelas subsequentes (Varzi em 35, Rosemeyer em 36/37 e Nuvolari em 38/39), mas seguiu muito competitivo e como vimos, logo antes da Gávea tinha de uma sensacional pole-position no GP de Trípoli

 

ARGENTINA: Também é óbvio que a representação Argentina era o que havia de melhor, não só por trazer a grande estrela ascendente do automobilismo argentino Carlos Arzani, mas também dois ex-vencedores da Gávea, Coppolli e Carú como também o veterano Raul Riganti que já vinha de se ter apresentado inclusive nas 500 milhas de Indianápolis.  Praticamente quase todos os principais pilotos argentinos de 1937 aqui estavam e com seus melhores carros destacando-se a recém importada Alfa 8C 35 de Arzani e a magnífica 2.900 A “botticella” com Carú. Em termos de carros a representação Argentina trouxe o que de melhor havia não só em seu país mas na América do Sul como um todo.


ITÁLIA: Se alguém aguardava Nuvolari era porque não entendia o cronograma de provas na Europa e se não houvesse um contrato muito bem escrito, parece natural que a Scuderia Ferrari não o trouxesse.

A presença de Pintacuda e Brívio, não desmereceu a aparição da Ferrari. Eles eram titulares estabelecidos da Scuderia Ferrari e disputavam entre si e com Farina o posto de “segundo piloto” da Scuderia. Os três eram jovens de elite, talentosos e já tinham vencido provas de prestigio (Mille Miglia, targa florio, etc).

O fato de ter sido dado a Brivio o 12C 36 um pouco mais potente mas menos confiável e a Pintacuda o 8C 35 pode indicar alguma hierarquia a favor de Brivio, com duas observações porém. 

A Ferrari às vezes decidia esse tipo de coisa no sorteio, como continuaria fazendo muitos anos depois (nos anos 50 eram comuns os sorteios e famosas as brigas entre Musso e Castelotti).

A decisão pode ter sido decido de comum acordo também.

É ilustrativo um episódio na Coppa Ciano de 1936 em que Nuvolari tendo abandonado a prova logo após a largada com um Alfa 12C 36 teve que se decidir qual carro tomaria emprestado para prosseguir – se Brivio com o 12C 36 ou Pintacuda com o 8C 35 levemente menos potente. E Nuvolari preferiu “tomar” o carro de Pintacuda

Apenas Gazzabini, embora muito experiente e tarimbado, não se pode dizer que fosse um piloto de primeira grandeza, mas mais tarde falaremos de sua presença e do eventual fato de ser um “agregado” à Scuderia para a ocasião.

Em resumo estava aqui a principal equipe italiana (Scuderia Ferrari) com carros que estava utilizando no mesmo ano nos GPs europeus com dois pilotos já vencedores de uma das mais difíceis provas do mundo, as Mille Miglia. Se aqui não estavam Nuvolari (em temporada europeia), Varzi (então na Auto Union, mas afastado temporariamente das competições) e Fagioli, não se pode dizer que a representação italiana não fosse de altíssimo nível.

 

BRASIL: Com exceção de Manuel de Teffé, o Brasil também foi representado pelo seu melhor de carros e pilotos. É importante notar que nenhum deles era iniciante ou inexperiente. Mesmo os que correram com carros “adaptados” já eram tarimbados, sendo praticamente todos eles com experiencias anteriores na Gávea e alguns até com experiencia internacional.

Alguns melhor equipados como Nascimento Jr (Alfa P3) Benedicto Lopes e Rubens Abrunhosa (Alfa 8C Monza), formando o grupo dos brasileiros com melhor chance.

O segundo grupo com Marques Porto, Quirino Landi, Tavares de Moraes e o português de nascimento radicado no Brasil Domingos Lopes. Embora todos experientes em corridas com diversos modelos, nota-se, como veremos em detalhe mais adiante, que Marques Porto recebera seu carro comprado na Argentina às vésperas da corrida, Tavares de Moraes também tinha trocado de carro às vésperas (iria correr num Talbot e depois num Ford V-8 antes de poder comprar o Bugatti ex-Domingos Lopes). Esse último trocava um Bugatti por outro que embora usado, acabava de vir da França para “estrear” em terras brasileiras nos treinos da Gávea de 37. Sempre lembrando que todos os Bugattis, embora “novos” para seus três pilotos acima eram carros já de idade e “velhos de guerra”.

O único que já vinha de várias aparições com o mesmo carro era Quirino Landi com o envelhecido Bugatti da escuderia Excelsior.  

Resta a percepção de que alguns dos brasileiros acima estivesse melhor servido com suas baratinhas Ford V-8, mas parece que todos eles ao mesmo tempo perceberam que a “régua” havia subido para a Gávea de 1937 se precipitaram a comprar verdadeiros carros de “Grand Prix” e em 1937 o que mais havia nesse mercado eram os belos, mas envelhecidos, Bugattis de vários modelos.

Entre os tarimbados experientes e talentosos volantes que preferiram se apresentar com seus bem provados Fords V-8 estavam o lendário campeão do Sul Norberto Jung, o experiente piloto santista Santos Soeiro e o famoso piloto/preparador José Santiago todos os três bem tarimbados nas velozes “baratinhas Ford”.

Nos carros “especiais” estava a grande estrela “ascendente” do automobilismo nacional Chico Landi com o curioso, Fiat-Rosa Especial, ex Vittorio Rosa, sobre o qual vamos discorrer depois e o veteraníssimo Julio de Moraes com o Wanderer adaptado de que já tratamos acima.

Novamente, à exceção de Teffe, estavam todos os principais pilotos brasileiros, notando-se a ausência dos que treinaram mas não largaram ou foram eliminados por acidentes antes da largada como Moraes Sarmento, Joaquim Santana, Santos Mauro e mais um ou outro dos que treinaram mas não largaram.


PORTUGAL: Os dois principais pilotos portugueses com seus melhores carros, sendo um deles o grande astro Vasco Sameiro e o jovem Almeida Araújo, embora este último fosse já um veterano da Gávea (terceiro lugar em 1935). Apenas a se lamentar que não voltou para a Gávea de 1937 o famoso Henrique Lehrfeld e sua Bugatti, (segundo lugar em 1935). A exemplo da Argentina, Portugal trouxe o que de melhor havia em termos de pilotos e carros.


FRANÇA: da França já não podemos dizer que fosse uma representação significativa nem mesmo que fosse uma representação chamativa como a de 1936 em que veio Helle Nice com seu Alfa Monza. Gilbert Foury embora já com algum curriculum de respeito, não era um piloto de primeira linha e Georges Hardy (Macedardy) embora já veterano de 1936 era por todas as indicações um amador. Ambos conveniente e patrioticamente com Bugattis.  Realmente o que havia de mais representação da França eram os vários Bugattis, já um tanto velhuscos, em diferentes versões, mas sempre muito queridos representantes da lendária marca francesa.


OS CARROS

Via de regra não vamos nos alongar sobre a história posterior dos carros que participaram da Gávea de 1937. 

Tentaremos fazer um breve exercício hipotético para saber qual exatamente o modelo e chassis presentes no grid da Gávea de 1937 sem adentrar na complexa e controvertida história posterior desses carros alguns dos quais voltaram imediatamente e outros sobreviveram na América do Sul mas acabaram reexportados nos anos 60/70/80 quando se tornaram grandes raridades disputadas ardentemente pelos colecionadores. A história desses carros antes de 1937 já é difícil pela falta de identificação precisa da numeração do chassis dos carros mais importantes e praticamente impossível quanto aos carros “especiais” ou seja os híbridos e adaptados/transformados para corridas.

Esclarecendo que nada poderá ser tido como conclusão definitiva, não vamos nos furtar a fazer alguns exercícios de identificação inicial do chassis desses carros, com base nas informações de época e nas informações desenvolvidas por vários autores/historiadores até esta data. 


ALFA X BUGATTI

O que tornou a Gávea de 1937 muito especial foi a presença da Auto Union e das Alfas “oficiais” da Scuderia Ferrari, mas é preciso notar que se nota um padrão de grid “Alfa x Bugatti” que estava se tornando corriqueiro nos GPs internacionais

Nem todos os Grandes prêmios - independente do país em que fossem realizados- eram provas de alto nível, ou “grands epreuves”, como os válidos pelo campeonato europeu que recebiam as flechas prateadas Mercedes e Auto Union.

Fora do continente europeu os regulamentos eram “força livre”, mas na década de 30, pilotos de todo o mundo estavam buscando carros construídos especialmente para corridas e deixando para trás os velhos “dinossauros” adaptados.

Então as marcas que vendiam os carros a terceiros em quantidade eram principalmente Bugatti e Alfa Romeo que passaram a ter uma presença constante em corridas no mundo todo.

No início da década de 30 alguns grandes prêmios foram na essência um grande “clássico” Alfa x Bugatti.

A análise numérica da Gávea de 1937 não foi essencialmente diferente.


Dez carros Alfa Romeo sendo:

uma 12 C 36 com Brívio;

duas 8C 35 para Pintacuda e Arzani;

uma 2.900 A chassis curto carroceria tipo “botticella” para Carú;

uma Tipo B monoposto ou “P3” para Nascimento Jr;

cinco 8C 2300 “Monza” (sendo duas delas com motor 2600) para, Vasco Sameiro, Carlo Gazzabini, Benedicto Lopes, Almeida Araujo, e Rubem Abrunhosa.


Sete carros Bugatti sendo:

duas T 51 Grand Prix para Domingos Lopes e Gilbert Foury (como veremos adiante há uma dúvida para o modelo de Domingos Lopes embora tudo leve a crer tratar-se de uma T51 assim como o carro de Foury);

uma T 43 Grand Sport (?) para Macedardy;

uma T35 B para Marques Porto;

uma T35 T “especial” para Vittorio Coppoli;

Duas T37 A (voiturettes) para Tavares de Moraes e Quirino Landi.


Assim Alfas e Bugattis estavam perfazendo 17 dos 24 concorrentes que efetivamente largaram.


A outra força presente eram os três Fords “adaptados”. Esses carros eram verdadeiros Fords com chassis e um “trem motriz” basicamente Ford. Entenda-se motor, câmbio, chassis suspensão freios, até rodas, etc além de muitos deles incorporarem o capô dianteiro e a graciosa grade cromada típica dos Fords V-8. Claro a carroceria do painel para trás era extirpada dando lugar a concepções minimalistas com tanques expostos ou algum elegante trabalho de cauda “boat tail”. Mas os carros eram de tudo e por tudo Fords adaptados.

Por fim, das marcas em “exemplar único” além do Auto Union Tipo C, temos uma outra categoria que a nosso ver erroneamente tomava a denominação de seu motor, mas na verdade eram “chassis especiais” com uma miscelânea de peças de várias origens e uma motorização (principalmente motor e câmbio) de determinada marca aqui se incluindo o Fiat de Landi (de fato um chassis especial feito por Vittorio Rosa com motorização Fiat) o Hudson de Riganti (idem) e o Wanderer de Julio de Moraes (ibidem). Esses carros tinham chassis especiais ou chassis tão adulterados para “virar” um carro de corrida que não podem ser identificados por chassis e normalmente a imprensa dava o nome pela marca do motor para “simplificar” o entendimento do que eram esses híbridos.


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