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The Finest Hour

• Por Alfa Romeo Clube do Brasil
Uma homenagem a Wilson Fittipaldi Jr
The Finest Hour

THE FINEST HOUR

Por Alberto Maurício Caló

 

UMA HOMENAGEM A WILSON FITTIPALDI JR

 

“The finest hour” é uma expressão em inglês para designar o melhor momento, um ato, um gesto, uma atitude, instantânea ou continuada, de excepcional bravura, valentia, coragem, nobreza de espírito.

 

Um momento de provação em que o indivíduo em iluminação ou em “estado de graça”, estabeleceu um novo paradigma pelo qual tudo, antes ou depois, seria balizado.

 

Constatado esse ato ou feito excepcional a coletividade vai apontar que aquela foi a sua melhor hora, “The finest hour” em inglês

 

Wilson Fittipaldi Jr foi um dos mais ecléticos e completos pilotos que o Brasil viu nascer.


Um raro talento que parecia muito à vontade em um Renault Gordini com seus  40 HP de emoção “ (como dizia a propaganda da época) ou em um Porsche 917/30 com quase 1200 HPs.

 

Mas, vamos direto ao ponto: 

 

Wilsinho já tinha dirigido de tudo até o final dos anos 60:

De pequenos Fiats Abarth, Renault Gordinis, Willys Interlagos, Alpines, Alfa Romeos de vários modelos, passando por fórmulas como o Willys Gávea e carros de sua própria produção como o Fitti Vê, Fitti Porsche e tantos outros. 

Após uma aparição internacional em um torneio de F 3 argentino com a equipe Willys, se esperava que Wilsinho fosse receber um eventual convite para correr na Europa com a equipe Alpine em F3 e F2

As coisas demoraram um pouco mais para acontecer, mas em 1970 Wilsinho estava a caminho da Europa seguindo os caminhos de seu irmão mais moço Emerson

Digamos que com a experiência de Wilsinho a passagem pela F 3 e F2 foi quase uma formalidade para a obtenção da licença de F-1

Wilsinho mesmo com equipamentos modestos logo obteve vitórias e resultados expressivos em F-3 e F-2 mostrando o que já se sabia no Brasil: ele era um daqueles pilotos diferenciados que podiam “sentar em qualquer coisa” sobre quatro rodas e imediatamente apresentar um “tempo” competitivo - simples assim

 

Após alguns bons resultados com F3 e F2 na Europa, Wilsinho chegou a testar um F-1, o Lotus Ford 49-C, por sugestão de Emerson Fittipaldi a Colin Chapman.

 

Wilsinho estreou em uma prova extra-campeonato, o GP da Argentina de 1971 que envolvia carros de F1 e F.5000. Era uma prova-teste para o GP oficial de F-1 da Argentina de 1972. 

 

A prova argentina contava um campo um pouco mais fraco de adversários, mas mesmo assim com alguns nomes famosos da F-1.  Wilsinho com um antigo Lotus 49 C estava no famoso “Gold Leaf Team Lotus” acompanhado seu irmão Emerson e Reine Wisell ambos nos mais modernos Lotus 72C, modelo no qual Emerson havia famosamente vencido o GP dos EUA em Watkins Glen em 4/10/70.

 

A prova foi realizada no Autódromo Municipal de Buenos Aires (depois Autódromo Oscar Alfredo Galvez) em 24/1/71 e foi uma das derradeiras aparições do lendário Lotus Ford 49, carro que em sua primeira versão tinha estreado motores Ford Cosworth com Jim Clark e Graham Hill na temporada de 1967.

 

 


Foto: Autódromo Municipal de Buenos Aires, Argentina, 24/1/71: Wilsinho estreia na F-1 no lendário Lotus Ford 49 C ultimo descendente da estirpe dos Lotus 49 que tantos campeões carregou como Clark, Hill, Rindt e também foi protagonista da estréia de Emerson Fittipaldi na F-1.



Foto: Autódromo Municipal de Buenos Aires, Argentina, 24/1/71: o Lotus Ford 49 C de Wilsinho em primeiro plano é acompanhado dos mais modernos Lotus 72-C de Reine Wisell e Emerson Fittipaldi.

 

Em Buenos Aires, com um campo mais fraco de concorrentes, Wilsinho partiu de um razoável nono lugar no grid, mas teve que abandonar a prova disputada em duas baterias.

 

Mas eventualmente os caminhos de Wilsinho em 1971, com o mesmo apoio de seus patrocinadores brasileiros na F-2, o levaram de volta à F-1 já então na Brabham em 1972, equipe que vinha de ser adquirida por Bernie Ecclestone.

 

1972 – Primeiros passos na F-1

 

Em 1972, ano em que seu irmão Emerson partiria para a conquista do mundial de F1, Wilsinho iniciava seus passos na equipe Brabham-MRD (MRD para Motor Racing Developments) lendário time fundado pelo tricampeão mundial Jack Brabham e que com a aposentadoria desse no final de 1970, passava para as mãos de seu sócio e projetista-chefe Ron Tauranac e em 1972 deste para Bernie Ecclestone.

 

Em 1971 a equipe era conduzida pelo projetista Ron Tauranac que como novo dono fez a transição entre Jack Brabham e Bernie Ecclestone que assumiria o controle majoritário em 1972.

 

Não se pode, porém, dizer que a perspectiva era brilhante. Agregado à equipe depois que a temporada já se havia iniciado, a Wilsinho coube um velho Brabham Ford BT33, um carro eficiente da temporada de 1970, mas que já estava ultrapassado. Embora o modelo tivesse tido uma atualização com um bico mais envolvente, uma tomada de ar e um novo aerofólio, o BT 33 já ia para sua terceira temporada na F-1.

 

Os companheiros de Wilsinho na Brabham em 1972 seriam o lendário Graham Hill, ex bicampeão mundial e vencedor de Indianápolis, que iria vencer Le Mans naquele mesmo ano, conquistando uma “tríplice coroa” que nenhum outro piloto (até esta data) conseguiu. Outro companheiro de Wilsinho era a nova sensação da F1, o ultra-talentoso Carlos Reutemann, futuro vice campeão mundial.

 

Conforme Wilsinho relatou ao autor, o ambiente na Brabham era agradável. Hill era irônico e divertido, fazia piadas constantemente e Wilsinho também se dava bem com Reutemann, de modo que o clima era muito bom. 

 

O mesmo não se poderia dizer dos carros, que no início eram três modelos. Ralph Bellamy desenhou o novo BT 37 como evolução do BT34 que fora o último projeto de Ron Tauranac para a Brabham.

 

Hill conduziria no novo Brabham BT 37 nas primeiras provas, ficando Reutemann com o BT 34 e Wilsinho com o mais velho BT 33. O BT 33 era um carro projetado por Tauranac para a temporada de 1970 em que se mostrou muito competitivo nas mãos do dono da equipe Jack Brabham. Em 1971 o BT 33 tinha sido atualizado com nova frente e componentes, pilotado usualmente pelo australiano Tim Schenken. Em 1972 o velho BT 33 partia para sua terceira temporada, agora nas mãos de Wilsinho. 

 

Em março de 1972 Wilsinho participa de uma prova extra-oficial, o GP Brasil em Interlagos. Seria um GP de “teste” para ver se o Circuito poderia receber uma prova oficial de F1 no futuro. Por obra e graça de seu talento e enorme conhecimento da pista que era praticamente seu “quintal”, Wilsinho com o antigo Brabham BT 33 estréia de forma fulgurante e partindo do quarto lugar no grid logo toma a ponta da corrida para liderar as primeiras voltas.

 

O mundo volta à ordem com Emerson (Lotus 72D), Reutemann (Brabham Ford BT 34) e Peterson (March Ford 721) passando à frente. No final, uma quebra do Lotus nas últimas voltas tira e vitória de Emerson, mas Wilsinho completa o podium atras de Reutemann e Peterson.

 

 


Foto: Circuito de Interlagos 30/3/72:  Wilsinho está com o Brabham Ford BT33 da temporada de 1970 que tinha sido atualizado com nova frente e componentes. É o primeiro GP Brasil de F-1, disputado como prova extra oficial. Wilsinho liderou as primeiras voltas à frente de seu irmão Emerson (Lotus Ford 72 D) e de seu companheiro Carlos Reutemann com o mais novo Brabham Ford BT 34. Pouco depois Emerson assumiu a ponta, mas uma quebra no final da prova entregou à Reutemann a vitória. 


Foto: GP da Espanha, Circuito de Jarama, 1/5/72. Wilsinho guiou novamente o velho Brabham Ford BT 33. Foi a primeira prova oficial de F1 de Wilsinho e a terceira do campeonato de F-1 daquele ano. Oficialmente foi também a primeira prova de F-1 oficial em que dois irmãos participaram (Wilson e Emerson).

 


Foto: GP de Monaco no Circuito de Montecarlo 14/5/72. Nessa famosa edição do GP de Mônaco disputada sob chuva torrencial, Wilsinho voltou a pilotar o velho Brabham Ford BT 33 agora adaptado com um “bico” mais fino do BT 37, terminando em um bom nono lugar. Wilsinho já dava sinais que era o tipo de pista com que teve afinidades imediatas. Veremos as consequências a seguir

 

Assim que o segundo BT 37 ficou pronto para Reutemann, Wilsinho foi “promovido” ao BT 34 um estranho monoposto de F1 com dois radiadores laterais dianteiros que o tornavam semelhante a uma lagosta, daí ser chamado pelos ingleses de Brabham “lobster claw” e pelos franceses de Brabham “pinces de hommard”

Além de estranho, o carro não tinha sido particularmente bem sucedido nas temporadas anteriores assinalando apenas duas vitórias em provas extra campeonato (Hill- International Trophy – 1971 e Reutemann (GP Brasil extra oficial de 1972).

 


Foto: Graham Hill deu a primeira vitória ao estranho Brabham Ford BT 34 em uma prova extra campeonato, o International Trophy em Silvesrtone em maio de 1971. Na foto acima o carro é visto na corrida dos campeões em Brands Hatch no mesmo ano. Em 1971 a Brabham corria ainda nas corres australianas de verde com detalhes amarelos. 

 

Hill e Reutemann agora guiavam o carro mais atualizado, o BT 37 sempre equipado com o tradicional Ford Cosworth V-8.

 

Longe de ser um “supra-sumo” da F1 o BT 37 era um carro para brigar pelas posições intermediárias e buscar um eventual espaço entra os seis primeiros (mas sem aspirar a vitórias).

 

Com o BT 34 caberia a Wilsinho “tirar leite de pedra” e mostrar seu valor nas pistas especialmente difíceis e foi exatamente o que ele fez nas provas seguintes de 1972.


Foto: o Brabham BT 37 aqui visto com Carlos Reutemann no GP do Canadá de 1972, foi um carro razoável, capaz de disputar posições intermediárias. Assim como Wilsinho tinha patrocínio de entidades brasileiras, Reutemann tinha apoio da Argentina e de companhias locais como a petroleira YPF.

 

Depois de um bom nono lugar em Monaco sob chuva com o BT 33, Wilsinho estreou no BT 34 no GP da Bélgica (Circuito de Nivelles), mas foi vítima de uma quebra de câmbio após 28 voltas.

 
O primeiro lampejo de seu virtuosismo com o BT 34 veio no GP da França de 1972 no Circuito de Charade em Clermont-Ferrand, uma pista estreita em aclives e declives com um nível de dificuldade próximo de Nurburgring.

 

Mas sendo um circuito inserido em uma região montanhosa na região de Auvergne, Clermont Ferrand era tida e havida naquele tempo como o circuito mais bonito da Europa. 

Em um circuito raramente usado e que vários pilotos da F-1 sequer conheciam, praticamente todos ficaram quase “perdidos” na busca pelas melhores regulagens.


Mas Wilsinho não era piloto de se deixar intimidar por um circuito difícil , nem de esperar a melhor regulagem antes de sentar o pé no acelerador..........…

Surpreendentemente nos treinos com o velho BT 34 ele se instala na 14ª posição deixando Reutemann em 17º e Hill em 20º com os Brabham mais novos. 

 

Para efeito de comparação Emerson, que também não conhecia a pista, teve que se contentar de largar em oitavo lugar com o carro que seria campeão daquele ano e olhe que Emerson também era um “notório acertador” de carros.


Foto: GP da França no Circuito de Charade em Clermont-Ferrand 2/7/72. Após um  brilhante treino em que Wilsinho (Brabham Ford BT 34)  largou à frente de Reutemann e Hill nos mais novos BT 37, a prova resultou em um ótimo oitavo lugar.

 

Ele seria ainda o sétimo no GP da Alemanha (Nurbugring), mas o velho Brabham quase sempre quebrava, o que não impedia Wilsinho de mostrar seu brilho.


No GP dos EUA em Watkins Glen com o velho BT 34, Wilsinho parte em 13º e começa surpreendentemente a escalar o grid passando em 10º na primeira volta. Com Emerson fora e, embora perdendo uma posição para Ronnie Peterson (March Ford), Wilsinho ultrapassa Regazzoni (Ferrari) e sobe até o sexto lugar precedido apenas de Stewart e Cevert (Tyrrell Ford),  Hulme (Mclaren Ford), Peterson (March Ford) e Ickx (Ferrari), alguns dos melhores pilotos e carros daquela temporada de 1972

 


Foto: GP dos EUA no Circuito de Watkins Glen, 8/10/72. Wilsinho ainda no velho Brabham Ford BT 34 foi brilhante assumindo o sexto lugar antes da quebra após uma prova muito competitiva.

 

1973 – O grande ano

 

Com a saída de Hill no final da temporada de 1972, Wilsinho teria apenas Reutemann como companheiro para a temporada de 1973 e estava “promovido” para pilotar o Brabham Ford BT 37. Esse seria o carro para as primeiras provas de 1973, a saber, Argentina, Brasil e África do Sul, enquanto se aguardava um novo carro com um projeto totalmente diferente. 

 

Embora nessas três primeiras provas Wilsinho tenha sempre largado atrás de Reutemann, que já guiara o BT 37 durante boa parte da temporada de 1972 ele mostrou uma rápida adaptação ao carro.

 

Em sua primeira prova com ele no GP da Argentina no Circuito Municipal de Buenos Aires, em 28/1/73, Wilsinho guiou de uma forma consistente obtendo um ótimo sexto lugar e marcando seus primeiros pontos no campeonato de F-1.

 

 


Foto: GP do Brasil no Circuito de Interlagos. 11/2/73. Com o Brabham Ford BT 37 Wilsinho que largara em 11º chegou a figurar em 6º lugar no início da corrida, mas logo foi para o box com problemas no radiador.

 

O novo Brabham BT 42 seria projeto do jovem (depois celebre) Gordon Murray. Com formas triangulares bastante distintas o BT 42 seria o primeiro de uma séria de bons projetos de Murray para a Brabham.  

 

O Brabham BT 42 só apareceria no GP da Espanha em Barcelona no Circuito de Montjuic (29/4/73). 

 

Nesse perigoso circuito de rua em meio ao Parque de Montjuic, o colega de equipe de Wilsinho, Carlos Reutemann, vai subir consistentemente de posições após abandono de alguns favoritos e quase rouba a vitória de Emerson Fittipaldi (Lotus Ford 72 D). Aproveitando-se do fato que um pneu do Lotus vinha murchando e os tempos do brasileiro iam ficando cada vez piores, Reutemann se aproxima nas voltas finais e quando Emerson já estava no “campo visual” do argentino é a vez do Brabham quebrar.

 

A se lembrar que nessa prova Reutemann tinha largado no grid atrás de Wilsinho.

 

Na prova seguinte, GP da Bélgica, no Circuito de Zolder, em 20/5/73, Wilsinho tem uma corrida a ser esquecida, mas Reutemann mostra novamente o potencial do BT 42 subindo até terceiro lugar em determinado momento da prova.

 

O BT 42 já tinha se mostrado um carro rápido e bem nascido e que se dava bem em circuitos “travados”. Wilsinho tinha mostrado sua rápida adaptação ao novo modelo e com ele estava num empate de 1x1 com Reutemann em tempos de treino.

 

Tudo iria se alinhar no GP de Mônaco em 3/6/73.

 

Eventualmente seria o único momento de sua carreira de F-1 em que Wilsinho iria ter um carro realmente competitivo em um circuito favorável. 

 

Chegávamos a Mônaco, o extenuante circuito de Montecarlo com um novo traçado ainda mais sinuoso com novas chicanes.

 


Foto: Wilsinho não pode apreciar a linda orla do porto de Mônaco. Ele está muito ocupado fazendo a “corrida da sua vida” no belo Brabham BT 42

 

Visto o brilhante desempenho do BT 42 em Montjuic, circuito de características semelhantes a Mônaco, não seria demais prever uma boa prova em Montecarlo, além de que Wilsinho era exatamente o tipo piloto para aquele tipo de circuito com uma pilotagem vigorosa e agressiva num lugar onde os erros não perdoam.

 

Muito à vontade nos treinos, Wilsinho assinalou o nono tempo, em igualdade de cronometro com o oitavo classificado (Clay Regazzoni – BRM P 160)

 

Stewart (Tyrrell-Ford  006) saia na pole com Peterson (Lotus Ford 72 D) a seu lado, com Denny Hulme (McLaren Ford M 23) em terceiro, François Cevert (Tyrrell- Ford 006) em quarto, com Emerson Fittipaldi ( Lotus Ford 72-D) em quinto, Niki Lauda ( BRM P 160) em sexto), Jacky Ickx ( Ferrari 312 B3) em sétimo, Clay Regazzoni (BRM P 160) era o oitavo em igualdade de tempos com Wilsinho ( Brabham Ford BT 42).

A pole de Stewart fora de 1 27’5 e Wilsinho partia com 128’9.

 

Na largada um inesperado François Cevert, saindo de terceiro, passa Stewart e Peterson para assumir a ponta.

 

Peterson mantém o segundo lugar e Regazzoni também em uma ótima largada passa em terceiro.

 

Um frustrado Stewart que largara da pole se vê em quarto lugar, com Emerson em quinto, Lauda em sexto, Ickx em sétimo e Wilsinho em oitavo já ganhando uma posição.

 

A alegria de Cevert dura pouco e depois de uma raspada ele já está no box para trocar um pneu e regredir para o penúltimo lugar.

 

Por meia dúzia de voltas Peterson começa a se afastar na liderança sobre o incrível Regazzoni com BRM em segundo lugar.

 

Mas aí é a vez da BRM do suíço travar seus freios e escapar da pista, para depois parar no box para uma verificação.

 

Agora Peterson lidera sobre Stewart, com Emerson em terceiro, deixando um compacto grupo de Lauda, Ickx e Wilsinho em seguida.

 

Mais algumas voltas Peterson tem problemas de pressão de combustível no motor de seu Lotus e começa a ser ultrapassado por Stewart que assume a liderança, depois por Emerson, Lauda, Ickx e Wilsinho.

 

Naquela temporada Regazzoni e Lauda eram colegas na BRM e ao voltar à Ferrari no ano seguinte, Regazzoni indicaria Lauda para a equipe italiana, iniciando os anos de glória do futuro tricampeão austríaco na F-1.

 

Mas fato é que Ickx (ex-vice-campeão mundial e vencedor de Le Mans naquela altura) tinha Ferrari com o motor boxer de 12 cilindros e Lauda um BRM V12, ambos hiper qualificados como pilotos e com carros com algumas dezenas de HPs a mais que o Ford Cosworth V8 do Brabham de Wilsinho.

 

Mas Wilsinho simplesmente “embutiu” na Ferrari do belga que por sua vez colou na BRM do austríaco. Uma terrível corrida de pressão envolvendo o terceiro, o quarto e o quinto lugares

 

O lendário jornalista inglês Dennis Jenkinson descreveu para a revista Motorsport: “ .....then came Lauda, Ickx and Wilson Fittipaldi, one behind the other, the elder Brazilian brother driving the race of his life.... ( então vinham Lauda, Ickx e Wilson Fittipaldi, um atras do outro, o brasileiro “irmão mais velho” dirigindo a corrida de sua vida.....)

 

A prova seguiu com Stewart liderando seguido de perto por Emerson e mais atrás o trio compacto de Lauda (BRM), Ickx ( Ferrari) e Wilsinho (Brabham) até que foi a vez da BRM do austríaco quebrar o câmbio.

 

Wilsinho em quarto manteve pressão sobre Ickx agora em terceiro.

 

Dennis Jenkinson descreveu para a revista Motorsport: “ .....the elder and taller Fittipaldi was really enjoying himself keeping his Brabham BT 42 right on the Ferrari tail and going strongly...” ( o Fittipaldi mais velho e mais alto estava realmente se divertindo mantendo seu Brabham colado na traseira do Ferrari e andando cada vez mais forte..)

 

Stewart abriu cerca de oito segundos para Emerson na ultrapassagem de retardatários, mas sem conseguir se desembaraçar do brasileiro. 

 

Após sua parada de box, Cevert continuava escalando o pelotão mas levava uma volta de seu colega de equipe Stewart. 

 

Após levar uma volta, Cevert colou em Stewart de modo que o francês agora se interpunha entre Stewart e Emerson. 

 

Cevert aproveitava a “carona” de Stewart colando no escocês para ir escalando o pelotão à medida que Stewart colocava uma volta nos retardatários.  Emerson seguia alguns segundos atrás, mas não tão perto.

 

Muitos desses retardatários achavam que Cevert vinha em segundo para lhes dar uma volta também, ignorando que Cevert de fato também era retardatário e estava efetivamente lhes tomando a posição. 

 

O colega de Emerson, Ronnie Peterson se estabilizava em sexto lugar com uma pressão de combustível errática.

 

Nessa altura a Ferrari de Ickx quebra um eixo dianteiro deixando Wilsinho em um terceiro lugar isolado e muito confortável 

 

Dennis Jenkinson descreveu para a revista Motorsport: “ .....and this let a delighted Wilson Fittipaldi into third place behind his kid brother..” ( ... e isso deixou um feliz Wilson Fittipaldi em terceiro atrás de seu irmão mais novo..)

 

No meio tempo o ex-campeão mundial Denny Hulme (McLaren M 23) enfrentou problemas o que restituiu Peterson ao quarto lugar.

 

Assim, Stewart na liderança tinha Cevert colado em si, mas em quinto lugar e uma volta atrás. Emerson vinha em seguida alguns segundos distante da dupla da Tyrrell e Wilsinho isolado em terceiro com Peterson isolado em quarto.

 

Stewart foi se aproximando dar uma volta em Peterson (quarto colocado) com Cevert atras de si e Emerson a poucos segundos.

 

DRAMA: Um terrível drama se anunciava para o final do GP de Mônaco. Stewart o líder, com Tyrrell, se aproximava para dar uma volta em Peterson, o quarto colocado, justamente o colega de equipe de Emerson na Lotus. Se temia que Peterson poderia “segurar” Stewart para possibilitar a aproximação de Emerson

 

Emerson, por sua vez, em segundo lugar, estava próximo de Stewart, mas entre eles estava justamente o companheiro de equipe de Stewart na Tyrrell, François Cevert, em quinto lugar que tinha levado uma volta de Stewart e que poderia “segurar” Emerson.

 

Cevert colado em Stewart poderia além de travar Emerson, tirar a posição de Peterson causando um “duplo prejuízo” aos pilotos da Lotus

 


Foto: O emocionante duelo de Jackie Stewart (Tyrrell Ford 006) e Emerson Fittipaldi (Lotus Ford 72 D) foi um dos mais belos confrontos dos dois campeões, mas um eventual “enrosco” entre eles daria a vitória a Wilsinho.

 

Uma situação terrível do encontro dos dois Lotus e dos dois Tyrrell onde os segundos pilotos (Peterson e Cevert) poderiam segurar os primeiros pilotos (Stewart e Emerson) com os quatro carros a ponto de andarem praticamente juntos.

 

Peterson retardatário com Lotus precedia o líder Stewart com Tyrrell, que precedia Cevert retardatário com Tyrrell, que precedia o vice-líder Emerson com Lotus.

 

Uma situação que poderia acabar mal em um circuito onde é fácil de as coisas “acabarem mal”.

 

O único com potencial de escapar de um “embrulho” era Wilsinho em um tranquilo e isolado terceiro lugar, conduzindo seu Brabham em uma corrida tecnicamente perfeita, com domínio completo de sua situação na prova.

 

Foi precisamente naquele momento que a imprensa internacional e o público presente perceberam que Wilsinho era potencialmente um sério candidato à vitória do GP de Mônaco de 1973.



Foto: The finest hour - Wilson Fittipaldi no seu Brabham Ford BT 42 está soberano nas ruas de Montecarlo. Correndo isolado em terceiro lugar e praticamente o único competidor não ameaçado de levar uma volta dos líderes (Stewart e Emerson) Wilsinho foi considerado pela imprensa internacional como bem posicionado para uma eventual e merecida vitória no GP de Mônaco de 1973.

 

Dentro dessa expectativa é que repentinamente o motor do Brabham de Wilsinho “apagou” na 72ª volta das 78 previstas quando a bomba de gasolina se recusou a sugar os galões finais do tanque para as últimas voltas.

 

O drama do primeiro lugar se desfez de forma sensata.

 

Emerson não tinha mais nada a esperar e grudou em Cevert para depois tentar buscar Stewart. 

 

Com certa surpresa, quando se esperavam atitudes dramáticas e desesperadas, Cevert deu passagem a Emerson e Peterson deu passagem Stewart, de modo que os dois saíram do caminho para que Emerson e Stewart desempenhassem seu “duelo final” sem interferências

 

O saudoso François Cevert (que faleceria naquele mesmo ano em um acidente nos treinos em Watkins Glen) declarou depois da prova... “ era uma situação de pressão agressiva em que alguém poderia acabar se machucando e eu não queria ser parte daquilo...” parece que esse mesmo espírito tomou o companheiro de Emerson na Lotus, Ronnie Peterson.

 

Assim que Cevert deu passagem a Emerson e Peterson deu passagem a Stewart e depois a Emerson, de modo que os dois campeões prosseguiram em seu furioso duelo pelas ruas de Montecarlo.

 

Emerson em um desesperado esforço final marcou a melhor volta da prova justamente na última volta, mas o escocês precedeu o brasileiro por apenas 1,3 segundos na bandeirada

 


Foto: a entrega de prêmios em Mônaco 1973. Da esquerda para a direita a Princesa Caroline, sua mãe a Princesa Grace, o Príncipe Rainier e Jackie Stewart no lugar em que poderia estar Wilsinho.

 

Peterson e Cevert terminariam uma volta atrás em terceiro e quarto.

 

Fechando a “zona de pontuação” da época, Peter Revson e Denny Hulme (colegas de equipe na McLaren) terminariam em quinto e sexto, duas voltas atras. 

 

Incrível é que todos os adversários de Wilsinho na “zona de pontuação” estavam com carros que venceram na temporada de 1973, ou seja, Lotus, Tyrrell e McLaren.

 

E Wilsinho era efetivamente o único que em condições normais não levaria uma volta de desvantagem para Stewart ou Emerson.

 

Ninguém dirigiu melhor do que Wilsinho naquele dia em Monaco. Stewart e Emerson foram combativos e brilhantes e seus colegas de equipe Cevert e Peterson mostraram seu arrojo e ousadia, mas Wilsinho não perdeu posições, não bateu seu Brabham em ninguém, não errou uma tangência, não errou uma marcha....

 

Rápido, consistente e seguro... foi se desvencilhando de seus adversários - vários deles ex ou futuros campeões mundiais -  com rara elegância e precisão de movimentos.

 

Wilsinho foi um soberano em Monaco no dia 3 de junho de 1973, a sua melhor hora...

THE FINEST HOUR....


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