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Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 24)

• Por Alfa Romeo Clube do Brasil
Capítulo 24 do incrível artigo elaborado por Alberto Maurício Caló sobre o Circuito da Gávea.
Circuito da Gávea: 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro (Cap. 24)

CIRCUITO DA GÁVEA – 1937 - GP Cidade do Rio de Janeiro

(CAPÍTULO 24)                                                                         Por Alberto Maurício Caló 

CONTINUAÇÃO QUADRO DE PILOTOS


BENEDICTO LOPES 

Brasil 

Equipe: Particular 

Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza chassis 2311213

Benedicto Moreira Lopes (1904-1989) o “campineiro voador” foi mecânico e depois dono de oficina e teria dado seus primeiros passos no esporte com o incentivo do mesmo comendador (italiano radicado em Campinas) Dante di Bartolomeo, que era o preceptor da Escuderia Excelsior que tinha como volantes Chico e seu irmão Quirino Landi. Como já explicamos acima essa equipe ficaria célebre entre 1934-1939.  

Segundo consta, Di Bartolomeo teria emprestado a Lopes o Bugatti com qual ele participaria da sua primeira Gávea de 1934. Lopes se mudaria para o Rio no ano seguinte e instalaria uma (posteriormente duas) oficinas, presumindo-se que o tenha feito em parceria com seu amigo e colega de corridas Luis Tavares de Moraes que seria visto com ele na Gávea de 1935 como co-piloto de um biposto Ford 34 “adaptado”.  

Nessa famosa Gávea de 1935 marcada pelo trágico acidente de Irineu Correa em outro Ford V-8 adaptado, a dupla liderou e quase arrebatou a prova.

Lopes seguia na liderança quando a três voltas do final se chocou com o carro de Filipe Rueda então retardatário, em um episódio controvertido



Foto: O jovem Benedicto Lopes foi logo identificado como um grande talento. Aqui ele é visto com o Ford V-8 adaptado com o qual começou a se destacar nas provas brasileiras

Em 1936 Lopes, muito perspicaz entendeu logo que o nível dos concorrentes estava muito mais alto e tentou, sem sucesso, comprar a Alfa 8C 2300 Monza de Helle Nice (chassis 2311213) antes da prova da Gávea daquele ano. 


Foto: (montagem fotográfica Diário da Noite). Desde a Gávea de 1936 Benedicto Lopes estava de olho na Alfa de Helle Nice conforme noticiado pelo Diário da Noite de 4/6/36 e teria oferecido 60 contos de réis pela Alfa. O preço – como veremos- seria reduzido após o GP de São Paulo

Sem conseguir comprar a Alfa no Rio, prova em que a francesa enfrentou diversos problemas depois de partir na primeira fila, Lopes foi a São Paulo para disputar o GP de 1936 (do qual, por fim, não teria participado, por um atraso na inscrição),

Como sabemos, em São Paulo a Alfa da francesa correspondeu plenamente. 

Sem poder chegar perto das Alfas 2.900 A “botticella” de Pintacuda e Marinoni, Helle Nice se envolveu em uma emocionante disputa pelo terceiro lugar com Manuel de Teffe, (também ele com Alfa 8C 2300 Monza). Do trágico acidente que resultou dessa disputa, sobrou a Alfa Monza da francesa muito danificada.

Mas Lopes iniciou entendimentos com Arnoldo Binelli, mecânico de Helle Nice, enquanto a francesa se recuperava após o acidente

Lopes e seus familiares, em depoimento posterior, confirmaram ter comprado a Alfa da piloto francesa que, de volta a Europa teria inclusive ajudado Lopes a fazer os contatos necessários para compra de peças na Europa para restauração do carro. Segundo o depoimento de Lopes o preço final da Alfa danificada teria sido 25 contos de réis ( i.e um bom desconto sobre os 60 contos oferecidos e recusados antes da Gávea de 1936. 


Foto: (site Bandeira Quadriculada) No GP de São Paulo de 1936 a magnífica Alfa 8C 2300 Monza de Helle Nice estava pintada em dois tons de azul e apelidada pela imprensa paulista de “Flecha Azul” ou “Pássaro Azul”. A francesa mostra todo seu estilo ao caprichar a tangência de uma das curvas do Circuito do Jardim América. Na foto ao lado direito aparece a parte frontal da Alfa após o terrível acidente.

Lopes estaria de volta na prova de Subida de Montanha de Petrópolis com a Alfa 8C 2300 Monza (chassis 2311213) devidamente restaurada e com uma nova carroceria biposto com a frente atualizada ao estilo das alfas mais novas.

Aqui precisamos fazer algumas observações. Embora se diga que a Radio Record tenha feito uma campanha para captar recursos para a recuperação do carro de Helle Nice, pouco se sabe sobre seu resultado, acreditando-se que a campanha tenha sido em prol das vítimas do desastre ou para a piloto;

Como toda restauração de um carro acidentado, a carroceria azul deve ter sido separada do chassis, presumindo-se que com base nela os funileiro de Lopes tenham construído praticamente uma outra carroceria, ainda biposto.

Possivelmente Lopes e seus funileiros que “atualizaram” e trocaram partes -ou toda- carroceria do carro mas ainda deixaram a Alfa Monza  na configuração “biposto” do modo que  apareceu na Gávea de 37 e nas provas que Lopes fez logo em seguida em Portugal (Villa Real e Estoril) às quais foi a convite do Automovel Clube de Portugal e com o incentivo e eventual apoio financeiro do já citado Comendador Sabbado D` Angelo e de Arnaldo Borghi.

Testemunhos dão conta que nas provas seguintes em Portugal (Vila Real em 25 de julho de 1937 e  Estoril em 15/7 /37) o carro era basicamente amarelo com detalhes verdes e, pelas fotos estava reconstruído como um biposto levemente modernizado principalmente na grade.

Feita essa ressalva sobre a carroceria e sem prosseguir nos detalhes da vida subsequente do carro, parece incontroverso que o carro de Lopes na Gávea de 1937 era a 8C 2300 Monza ex Helle Nice (chassis 2311213).


Foto: Após a Gávea de 1937, Benedicto Lopes foi fazer sua famosa temporada em Portugal com a mesma  Alfa (ex-Helle Nice). Aqui ele é visto  no Circuito do Estoril. Notem que a 8C 2300 Monza foi restaurada com uma grade levemente modernizada mas ainda com uma carroceria biposto pintada nas cores oficiais brasileiras ( amarelo com chassis e rodas verdes).

Lopes teria ainda uma longa carreira e algumas vitórias com essa e outras Alfas  (inclusive nos Circuitos do Chapadão em Campinas e da Quinta da Boa Vista no Rio) sendo que o  chassis 2311213 a uma certa altura passaria a ser visto com o conhecido piloto Luiz Tavares de Moraes que se associaria a Lopes em uma oficina no Rio e dai para o piloto Oldemar Ramos. 

Lopes conseguiria um bom quarto lugar na prova inaugural do Circuito de Interlagos em 1940 ainda com Alfa. Depois da Guerra seria visto em Maseratis assinalando nova vitória no Circuito da Quinta da Boa Vista em 1947 e em Petrópolis em 1948. Participou da última Gávea em janeiro de 1954 (oficialmente a edição de 1953) com uma Ferrari 166 MM (abandono) e em seguida, aos 49 anos de idade, venceu o III Circuito do Maracanã com Maserati 6CM no que foi a última prova do grande piloto brasileiro.

 

RUBENS ABRUNHOSA

Brasil 

Equipe: Particular 

Carro: Alfa Romeo 8C 2300 Monza (chassis 2311216? SF...?)


O volante carioca Rubem (Rubens) Abrunhosa (1914-1982) então com aproximadamente 23 anos era teoricamente o mais jovem piloto da Gávea de 1937, ainda no começo de uma prolifica carreira no automobilismo nacional. Não conseguimos os dados etários de exatamente todos os pilotos conforme descrito acima, mas cremos que nenhum deles tira de Abrunhosa o título de “jovem talento” presente.

Abrunhosa cuja simpatia o tornou muito querido do público mais tarde se tornou piloto da aviação civil, sendo tratado por “comandante“ ou, pelos mais íntimos, por seu apelido de “bimba” ou, em um trocadilho com Von Stuck, também foi apelidado de “Von Bimba”. 

Abrunhosa já vinha de participar da Gávea de 1935 com Hudson e de 1936 com Studebaker

Se Abrunhosa era jovem, sua Alfa na Gávea de 1937 já tinha um “passado”.

Abrunhosa, vendo a superioridade dos melhores carros europeus sobre os “especiais” adaptados localmente se preparou para vôos mais altos e providenciou a aquisição de uma 8C 2300 Monza.

Essa era reputadamente a 8C 2300 “Monza” ex- Manuel de Teffé, e assim precipuamente a 8C Monza usada por Teffé em provas importantes se destacando por exemplo:

a)     na Gávea de 1935 (onde abandonou por quebra do diferencial quando estava liderando a prova); 

b)    em provas argentinas inclusive nas 500 milhas de Rafaela (sexto lugar em 1935)

c)     no início de 1936 onde venceu o “quilômetro lançado” na Av. Epitácio Pessoa, (Lagoa, Rio de Janeiro) e na Subida de Petrópolis, abandonando, porém, no GP Termal de Poços de Caldas;

d)    na Gávea 1936 onde brasileiro era notoriamente o piloto mais rápido depois da “intocável” Alfa Botticella do líder de Pintacuda. Nessa prova Teffé quase venceu após a quebra de Pintacuda, mas na mesma volta teve que parar para a troca não prevista de uma roda e terminou em terceiro lugar;

e)     no famoso GP de São Paulo de julho de 1936 onde obteve o terceiro lugar atrás das invencíveis Botticellas de Pintacuda e Marinoni e onde se envolveu no trágico acidente com a Alfa Monza de Helle Nice na disputa da terceira posição. O resultado do acidente de Helle Nice foram cinco mortes e dezenas de feridos com maior ou menor gravidade;

f)     na Argentina em agosto de 1936 quando venceu uma das preliminares do GP da Argentina em Buenos Aires e ficou em quarto lugar na final vencida por Carlos Arzani com a Alfa Botticella, conforme descrevemos acima

g)    no início de, 1937 quando vence novamente na subida de Petrópolis;

Na Gávea de 1937 Teffé estava originalmente inscrito com sua Alfa 8C 2300 Monza e depois com a Alfa P3 “presenteada” pelo Automóvel Club Brasileiro (ACB) como narramos nos capítulos acima. Após a polemica sobre a P3 recebida, Teffé acabou suspenso e a Alfa P3 apreendida.

Porém deve ter sobrevivido formalmente uma inscrição original de Teffé com a Alfa Monza, o que causou confusão pois o ACB interpretou que tanto o carro (Alfa Monza) como o piloto (Teffé) estariam suspensos. 

No meio tempo Teffé deve ter vendido a 8C Monza para Abrunhosa. o que obrigou Abrunhosa a comprovar a aquisição do carro para o ACB, apresentando um recibo do preço pago e consequentemente “liberá-lo” para a prova


Sem adiantarmos os comentários sobre os treinos dos quais trataremos mais adiante, podemos notar que Abrunhosa deve ter se adaptado rapidamente ao carro e obteve uma classificação razoavelmente competitiva, ficando atrás dos carros mais potentes (Auto Union de Stuck, Alfa 12 C 36 de Brivio as 8C35 de Pintacuda e Arzani, a P3 de Nascimento Junior, a Monza com motor 2600 de Vasco Sameiro a 2.900 A de Carú, a Monza de Benedito Lopes, a Monza (também possivelmente com motor 2600) de Gazzabini e a P3 (que não correria) de Teffé. Vejam a lista de tempos abaixo.


 


Jornal A Batalha 5/6/37


Foto: A famosa Alfa 8C2300 Monza de Teffé em anúncio publicitário da Esso em 1936. Precisamente o carro de Abrunhosa em 1937.

Assim Abrunhosa se classificou exatamente como esperado, mostrando rápida adaptação a seu novo carro, mas claro, se deu conta que uma 8C 2300 já não era tão competitiva como fora nas Gáveas de 1935 e 1936 e obviamente já estava mostrando sinais de “idade”.


Foto: A Alfa 8C 2300 Monza de Teffé, vista aqui na Gávea de 1936 foi o carro de Abrunhosa na Gávea de 1937.

 

A IDENTIFICAÇÃO DA ALFA DE ABRUNHOSA

Sendo perfeitamente claro que a Alfa de Abrunhosa era a 8C 2300 Monza de Teffé, e provavelmente a primeira 8C Monza a chegar ao Brasil, teríamos que identificar seu número de chassis o que passa a ser um trabalho de investigação “por eliminação”.

Vejamos as outras Alfas 8C Monza presentes na Gávea de 1937: 

a)     o Monza de Vasco Sameiro: embora pesem dúvidas sobre a identificação (possivelmente o chassis 2211135), certo é que esse carro voltou a Portugal em 1937 e Sameiro venceria com ele o Circuito de Vila Real logo em seguida. Conforme explicamos acima em 1940  Sameiro voltou ao Brasil com uma Alfa Monza para a corrida inaugural de Interlagos. Esse chassis, que, a princípio seria o mesmo visto na Gávea de 1937. Após a volta com Sameiro em 1940 esse chassis foi reputadamente vendido ao piloto mineiro, Rodrigo Valentim de Miranda e desse a Osmar Lage e Aloysio Fontenelle.

 

b)    o Monza de Almeida Araújo era o chassis 2211138, carro que seria vendido e teria histórico posterior no Brasil com Newton Teixeira;

 

c)     O Monza de Benedito Lopes era o chassis 2311213 (ex – Helle Nice) carro que também teria histórico posterior no Brasil com Luiz Tavares de Moraes e Oldemar Ramos, e

 

d)    o Monza de Gazzabini, provavelmente o chassis 2211128, carro que também teria histórico posterior no Brasil com Chico Landi e outros pilotos inclusive Benedicto Lopes e Antonio Parra;

Eliminando os números de chassis das Alfas Monza acima e tentando identificar outras 8C Monza que ficaram no Brasil chegamos a poucas alternativas

HIPÓTESE PRELIMINAR

Conforme narra o conhecido Engenheiro Aeronáutico carioca e historiador do automobilismo Dr. Antônio Carlos Buarque de Lima, o conhecido piloto paulista Nascimento Jr, já citado em outro capítulo, ao se afastar (temporariamente) das pistas no início dos anos 40 tinha juntado uma frota de carros de corrida que lhe vieram por compra ou como parte de pagamento dos carros que usara ou vendera durante a carreira entre os quais:

- dois Fords V-8 1934 adaptados – o utilizado por ele em 1936 e 1937, e o famoso “ex-Irineu Corrêa” recebido de Geraldo Avelar como parte do pagamento de seu Alfa Romeo P3 usado na Gávea de 1937 e citado nos capitulos acima; mais 

- dois Alfa Romeos 8C 2300 Monza sendo um comprado em 1939 ao empresário carioca Jacintho Abitam, antes pertencente a Manuel de Teffé e ao corredor português residente no Brasil Luís (ou Luiz) Cañedo. O outro Alfa Monza era eventualmente o chassis 2311213 (ex – Helle Nice) recebido de Oldemar Ramos como parte do pagamento do Alfa Romeo 8C 35.(ex Carlos Arzani) também já citado em outro capítulo deste texto.

Naturalmente, esse Alfa Romeo 8C 2300 Monza sendo um comprado em 1939 ao empresário carioca Jacintho Abitam, antes pertencente a Manuel de Teffé e ao corredor português residente no Brasil Luís Canedo era o carro de Abrunhosa na Gávea de 1937.

Mas como teria sido a sequência de propriedade do carro a partir de Teffé?

Em maio de 1938 o jornal “O Imparcial” de 7/5/38 confirma que Luis Cañedo iria participar da Gávea com a Alfa que tinha pertencido a Teffé.

Mas há um imbróglio envolvendo outro conhecido piloto Henrique Casini e Luz Cañedo.


Independente do “imbróglio” entre Henrique Casini (grafado como Henrique Cassine) e Cañedo emerge a história que Cañedo teria comprado o carro diretamente a Teffé e não à Abrunhosa.

Teria sido o recibo firmado por Teffé um documento “pró-forma” apenas para Abrunhosa poder participar da Gávea de 1937 ?.

Foi esse documento pró-forma que permitiu a Abrunhosa também participar com o carro em seguida (setembro de 1937) prova do Circuito do Chapadão em Campinas- SP?

Será que, de fato, o carro nunca foi de Abrunhosa e só foi vendido “para valer” diretamente de Teffé para Cañedo? 

E Cañedo o teria dado em garantia para Casini, criando um “imbróglio” que porém não lhe tirou a propriedade do carro.

Fato é que Cañedo fica com o carro e o “compartilha” na Gávea de 38 com João Alfredo Braga

No primeiro Circuito da Gávea Nacional de 1938 Luis Cañedo já estava inscrito com o Alfa Monza (ex-Abrunhosa e Ex Teffé) tendo João Alfredo Braga como co-piloto.

Note-se que Abrunhosa estava na mesma prova com um híbrido Bugatti Studebaker (Bugatti T35-A chassis 4877 com motor Studebaker) confirmando que Abrunhosa ficou pouco com a Alfa. 

Ao fim de três voltas na Gavea Nacional de 1938 Cañedo cedeu o carro para João Alfredo Braga que assumiu o volante e terminou a prova em um ótimo terceiro lugar.


Foto: Diário da Noite 30/5/38. Na “Gávea Nacional” de 1938 (destinada unicamente à participação de pilotos brasileiros) João Alfredo Braga e Luiz Cañedo conduziram a Alfa Monza (ex ´Teffé e ex- Abrunhosa) para um ótimo terceiro lugar e foram soberbamente capturados pela câmera do fotógrafo do Diário da Noite.

João Alfredo Braga reapresenta o carro na Gávea Internacional de 1938 mas sofre um acidente com o mesmo derrapando e atingindo onze espectadores muitos dos quais da mesma família.

Aparentemente o carro não estava na Gávea Nacional de 1939 (onde estavam outras Alfa Monza citadas acima e bem identificadas) e nem na Gávea Nacional em dezembro de 1940 onde estava uma Monza não identificada com Fábio Andrade (ou Fabio de Andrada) mas cujo carro também era citado como uma antiga Alfa RL com motor Ford V-8.

Seguindo com as Monzas “não identificadas” na Gávea em 1941 foi a vez de Armando Sartorelli apresentar a única Monza não identificada enquando Rodrigo Miranda estava com a Monza “ex Vasco Sameiro”. Em 48 Annuar de Góes também é listado na inscrição com uma Monza não identificada, mas não comparece. Idem em 1949 que é a vez de Carlos Soares se inscrever e não largar com uma Alfa Monza não identificada.

Aliás o ano de 1949 sancionou a última aparição de uma Alfa 8C Monza na Gávea sendo o chassis 2211135 de Aloysio Fontenelle (ex-Vasco Sameiro)  que terminou em um honroso quarto lugar.


ENTÃO:

Aparentemente então podemos presumir que a Alfa Monza ex-Teffé, ex- Abrunhosa e ex- Cañedo estava fora de combate desde meados de 1938 e fora vendida em 1939 por Canedo a Jacintho Abitam que a revendeu a Nascimento Jr. 

Essas passagens dão a entender também que João Alfredo Braga, pilotou o carro nas duas Gáveas (Nacional e Internacional) em 1938 mas não era o proprietário. A propriedade continuaria de Luiz Cañedo 

Feitas essas considerações sobre a sequência de proprietários da Alfa Monza (ex-Teffé) que correu com Abrunhosa a Gávea de 1937, podemos eliminar outras quatro numerações de chassis de Monzas que ficaram no Brasil.

A de Gazzabini, a de Benedicto Lopes, a de Almeira Araújo e a de Vasco Sameiro

Voltamos então às informações que uma 8C 2300 Monza da terceira série “ex-scuderia Ferrari” teria sido encontrada e “resgatada” no Brasil que seria o chassis 2311216, carro que teria constado da coleção do Museu Eduardo Andrea Matarazzo em Bebedouro, Estado de São Paulo, no Brasil e posteriormente exportado através do célebre “caçador” de carros antigos Colin Crabbe. 

Esse carro teria algumas informações como a identificação “ex-Scuderia Ferrari” o que não podemos confirmar, mas é perfeitamente possível que Teffe tenha comprado um da Scuderia Ferrari que esteve envolvida no comércio de várias Alfas Monza e se prontificava a reformar/restaurar/pintar esses carros para os novos donos. A Alfa de Teffé chegou ao Brasil em muito bom estado repintada de amarelo claro com rodas verdes, nas cores oficiais brasileiras. Esse carro apareceu na Gávea com Teffé inicialmente em 1935, período em que a Scuderia já estava começando a “despachar” suas Monzas para pilotos particulares. Teffé tinha morado e tinha corrido na Itália e entendia bem o mercado local e distinguia certamente os carros bem preparados tanto que “estrilou” com vigor quando recebeu em 1937 a Alfa P3 por doação do ACB, quando rapidamente constatou o mau estado do carro, conforme já descrevemos neste texto.

Sendo uma ex Scuderia Ferrari a Alfa de Teffé deveria ter uma numeração interna da Scuderia Ferrari (SF numero..)  Há por fim uma especulação de que algumas Alfas Monza da Scuderia Ferrari foram construídas internamente e jamais tiveram uma numeração de chassis da Alfa Romeo, mas apenas uma numeração SF. Sem adentrar nessa especulação, teríamos mais um chassis (2311216) identificado no Brasil, que poderia ter sido o “ex-Teffé”  mas não se pode confirmar com certeza que tenha sido o carro do museu de Bebedouro.


QUAL SERIA A ALFA MONZA DO MUSEU DE BEBEDOURO?

 



Propaganda ilustrada do Museu Eduardo Matarazzo na década de 70 eventualmente apresentando a Alfa Monza acima à direita

 


Foto: Rara imagem da A Alfa 8C Monza do Museu Eduardo Andre Matarazzo de Bebedouro SP possivelmente em anuncio promocional da Promax-Bardahl. Carro posteriormente vendido à Europa. (foto site carros hi7.co) Notem o radiador polido e as aletas de ventilação na moldura do radiador ao estilo das P3 e não das “Monzas”.

 


Outra foto da Alfa Monza no Museu de Bebedouro SP, como sempre destacando a opção dos restauradores do museu em apresentar a parte frontal polida e não pintada na cor do carro. (foto site carros hi7.co)

Por eliminação parece que esse chassis 2311216 (uma Monza da “terceira série”) seria então mais provavelmente o carro ex-Teffé, ex Abrunhosa, ex Cañedo, ex Abitam, ex Nascimento Jr.

Curiosamente o tratamento frontal da Alfa Monza do Museu de Bebedouro, com suas aberturas de ventilação mais estreitas estava “ao estilo das Alfas P3” posteriores e neste caso lembra o tratamento frontal da Alfa Monza 2600 ex Vasco Sameiro (2211135) e alguns atribuem esse número de chassi ao carro que esteve no museu paulista

Só para complicar, sabe-se que a Monza chassis 2211135 ex-Vasco Sameiro. quando “resgatada” ou “descoberta” no Brasil estava com o motor 8C 2211081. Seria o motor originalmente de um outro chassis de Monza no Brasil, ou simplesmente o fato de que quando essa Alfa recebeu o “upgrade” do motor 2600, teria “descasado” a numeração de chassis com a do motor.? 

Fica a dúvida sobre a identificação do carro do Museu.

Sobre o carro de Abrunhosa (ex- Teffé) : como sabermos  que o carro de Abrunhosa em 1937 era um outro chassis  (que não o de Almeida Araújo nem o de Vasco Sameiro, nem o de Benedicto Lopes e nem o de Carlo Gazzabini)  podemos cogitar que fosse esse misterioso chassis 2311216 supostamente resgatado do Brasil ou ainda que fosse uma das misteriosas Alfa Monza que nunca tiveram uma numeração da Alfa Romeo, mas somente uma numeração da Scuderia Ferrari.


NA SEQUÊNCIA

Como falamos, após a Gávea de 1937 Abrunhosa estaria presente logo em seguida (setembro de 1937) no mesmo Alfa Romeo 8C 2300 Monza na prova do Circuito do Chapadão em Campinas/SP mas em determinado momento no final de 37 ou início de 38 o carro é repassado a Luis Cañedo. Abrunhosa segue carreira aparecendo no mais das vezes no Bugatti-Studebaker citado

O principal feito da longa carreira de Abrunhosa viria depois em 1940 quando famosamente ganhou a Gávea Nacional com um monoposto feito com muito esmero pela famosa oficina Woerdenbag do mecânico/engenheiro holandês Johanes (João) Woerdenbag Sua oficina no Rio Janeiro, como já citamos anteriormente, atendia com notória capacidade os carros mais exóticos e luxuosos carros da elite carioca. 

Claro que o Brasil já tinha construído através de vários mecânicos engenheiros e preparadores vários especiais de corrida com diferentes motorizações, mas o da Woerdenbag sem dúvida impressionou pela beleza de suas linhas, claramente inspiradas em um Mercedes Bens W 25 Grand Prix e pela cuidadosa construção e um muito bem preparado motor Studebaker (acreditamos ser um “studebaker president”de 8 cilindros em linha com aprox.. 4,1 litros)


Foto: O lindo Woerdenbag com um motor Studebaker catapultou Abrunhosa para o estrelato com uma imediata vitória na Gávea “nacional” de 1940 (para os pilotos brasileiros exclusivamente).

Abrunhosa ainda faria uma tentativa de carreira internacional tendo sido visto com Chico Landi na Itália em 1948 onde algumas notícias davam conta que supostamente poderia pilotar uma das Maseratis da equipe de Enrico Platé no GP de Bari mas isso não teria se confirmado e embora Abrunhosa estivesse ali presente teria preferido não “alugar” um outro carro sem condições.  Abrunhosa seguiria correndo no Brasil e ainda participaria da Gávea até a edição de 1952.

 Atenção: As imagens foram retiradas da internet para ilustrar a matéria, que, por sua vez, não possui qualquer fim lucrativo. Caso o leitor reconheça alguma delas como de sua propriedade, pedimos encarecidamente que o mesmo entre em contato conosco que removeremos ela da página.  

 

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